segunda-feira, 18 de abril de 2011

Walter Pinheiro: FHC, o príncipe, e os pobres

De Sapopemba ao resto do país, FHC e seu partido pouco ou nada conhecem a respeito das camadas mais humildes da população brasileira.

por Walter Pinheiro*


Em artigo publicado na revista "Interesse Nacional", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso exorta as oposições, e especialmente o seu partido, o PSDB, a abandonar o "povão" se ainda pensam em voltar ao governo.
Fernando Henrique sugere buscar apoio na nova classe média e pede pressa na ação, advertindo sobre a possibilidade de a situação se complicar se a presidenta Dilma Rousseff ganhar o apoio desses setores que emergiram (isso ele não disse) durante os dois governos do ex-presidente Lula.
Ao assumir a necessidade de que o PSDB se afaste do povão, Fernando Henrique inspira-se no general João Batista Figueiredo, o último ditador, que, ao deixar o poder, pediu que o povo o esquecesse.
A inspiração faz sentido. No campo social, os dois governos de FHC se parecem muito com o de Figueiredo, que apreciava mais o cheiro dos seus cavalos que o cheiro do povo. A situação do povo não experimentou melhora nos seis anos do mandato do general nem nos oito de Fernando Henrique.
FHC nunca soube muito de povo. Nas eleições municipais de 1985, ele foi surpreendido com a arguição do adversário Jânio Quadros sobre onde ficava Sapopemba, região habitada por famílias de baixa renda na periferia de São Paulo.
Escondido em um sorriso amarelo, FHC não respondeu à pergunta do ex-presidente, e Jânio redarguiu: "Como alguém pode pretender governar uma cidade se não conhece os seus bairros?".
De Sapopemba ao resto do país, FHC e o PSDB pouco ou nada conhecem das camadas mais humildes da população brasileira.
Até o fim do seu governo, essa gente comia uma vez a cada três dias. Sem emprego, sem perspectiva e sem amanhã, essa gente só sobrevivia, pois aquilo não era vida. Essas pessoas passaram a comer três vezes ao dia, a ter emprego, mais saúde e dinheiro no bolso para consumir a partir do governo Lula. Em oito anos, o Brasil experimentou a maior mobilização social da sua história.
Diante da maior crise financeira mundial desde 1929, o país criou no período 15 milhões de empregos; 19 milhões de pessoas ascenderam das classes D e E para a classe C, que hoje representa 53% da população. Outras 12 milhões pularam da classe C para as classes A e B.
Será que é essa classe média que FHC pretende cooptar para as oposições? Esmagada em seu governo, foi ampliada pelo governo Lula, com apoio dos partidos da sua base de sustentação. Não se deixará iludir pelo canto da sereia agora entoado pelo ex-presidente.
Para ter o sentimento do povo, FHC e seu PSDB não precisariam ir ao extremo de trocar suas vestes, como fez o príncipe Edward com o paupérrimo Tom, na obra do escritor Mark Twain.
Mas devia tê-lo levado em consideração, acreditado em seu potencial. Quando puderam promover ascensão social, os governos do PSDB patrocinaram o arrocho salarial e, com sua política monetária, fomentaram falências e desemprego. Não só Inês é morta, como procurou justificar FHC a perda desse eleitorado. O leite derramado também é difícil de recuperar.

*WALTER PINHEIRO, 51, é senador pelo PT da Bahia.

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