segunda-feira, 6 de junho de 2011

Humala enfrenta incertezas no mercado financeiro

Lima, Peru - O novo presidente do Peru, Ollanta Humala, que venceu ontem, 05, o segundo turno das eleições, enfrenta, a partir de agora, um desafio duplo: dar sinais de uma reconciliação política num país polarizado e tranquilizar os mercados, cuja forte queda em reação à sua vitória provocou o fechamento antecipado das operações da Bolsa de Valores de Lima. Com queda de 12,51%, a maior de sua história, a Bolsa de Valores de Lima fechou duas horas antes do pregão normal.
Investidores e líderes empresariais temem que ele aumente o controle estatal da economia, abandone a disciplina fiscal, renegue acordos de livre comércio e ponha em perigo o recente sucesso econômico do país por meio de políticas intervencionistas e aumento dos gastos sociais.
Autoproclame
Com 48 anos, Humala proclamou, na noite de ontem para hoje, 06, sua vitória eleitoral, ainda não reconhecida oficialmente pela adversária Keiko Fujimori, ao mesmo tempo em que a lenta contagem oficial de votos lhe dava na manhã desta segunda-feira uma vantagem de 2,68% sobre a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, com 89% dos votos contabilizados (51,34% contra 48,66%). Keiko disse que reconheceria a derrota assim que os resultados finais fossem divulgados.
Força
Keiko, de 36 anos, era a favorita dos investidores, mas muitos eleitores votaram contra ela porque seu pai, Alberto Fujimori, está cumprindo pena de 25 anos de prisão por corrupção e por recorrer a esquadrões da morte para reprimir suspeitos de esquerdismo no período em que foi presidente, nos anos 1990.
Precaução
Em meio a um clima de incerteza, as operações na Bolsa de Lima foram suspensas durante duas horas logo após terem sido abertas em queda de 8,71%, sendo os principais afetados os títulos das empresas mineradoras: a Austral chegou a cair 17,8%, enquanto a Atacocha 15,6% e a Volcán, 15%.
Por volta do meio-dia as atividades foram reabertas, mas voltaram a fechar duas horas antes do fim do pregão por causa da queda de 12,51%.
Considerações
Pedro Pablo Kuczynski, candidato conservador derrotado no primeiro turno e ex-ministro de Economia, havia advertido para problemas no setor de mineração, referindo-se a uma proposta de Humala de aplicar um imposto extraordinário sobre os lucros das empresas mineradoras, um aspecto central do programa de governo.
Previsão
A queda da Bolsa era esperada. Ontem, 05, Félix Jiménez, arquiteto do projeto econômico de Humala, afirmou que o Banco Central da Reserva (BCR-Central) e o ministro da Economia deveriam tomar medidas para evitar o caos financeiro nesta segunda-feira.
O responsável pela diplomacia dos EUA para a América Latina, Arturo Valenzuela, anunciou durante o dia que Washington estava "disposto a trabalhar com ele (Humala), como vínhamos trabalhando com as autoridades do Peru".
Preocupação
Antes mesmo do fim da apuração oficial, aumenta a pressão para que Humala anuncie os nomes dos que ocuparão os cargos de primeiro-ministro e ministro da Economia. A analista Cecilia Blume afirmou nesta segunda-feira que "o presidente eleito tem de divulgar logo os nomes dos que ocuparão a direção do BCR, assim como os cargos de ministro da Fazenda e primeiro-ministro".
As incertezas do mercado têm relação com o fato de que, na eleição presidencial de 2006, Humala recebeu um forte apoio do presidente venezuelano Hugo Chávez, assustando o setor privado. Apesar de Humala ter-se distanciado de Chávez e apresentado um programa moderado, as propostas iniciais de estatização e reforma da Constituição causaram desconfiança sobre suas verdadeiras intenções.
Na noite de ontem, Humala se mostrou conciliador no discurso da vitória diante de milhares de partidários reunidos na Praça Três de Maio, em Lima. Prometeu dar "continuidade ao crescimento econômico, e que este será o grande motor do desenvolvimento social do país", tentando tranquilizar os investidores.
Disse também que seu governo convocará "os melhores técnicos independentes para poder fazer um governo de base ampla, em que ninguém se sinta excluído". No entanto, nesta segunda-feira, seu vice, Omar Chehade, provocou temores de que a polarização aumente ao declarar que o ex-presidente Fujimori, que desde 2009 cumpre uma sentença de 25 anos numa unidade policial em Lima, deve ir para uma penitenciária comum.

(*) Com informações Correio do Estado, AFP e Reuters

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