sábado, 4 de junho de 2011

“Slut Walk”: Avenida Paulista recebe primeira edição da “Marcha das vadias”

Organizadores esperam reunir cerca de 1.500 pessoas na primeira edição brasileira
Acontece neste sábado, 04, a partir das 14h, na Avenida Paulista, em São Paulo, a primeira “Slut Walk” brasileira, ou “Marcha das Vadias” em português, evento mundial de mulheres contra o machismo.
A primeira caminhada de protesto com esse nome aconteceu no início deste ano em Toronto, no Canadá, depois que um policial disse às estudantes de uma universidade que elas não deveriam se vestir como vadias (sluts) quando frequentassem o campus como forma de evitar os crimes sexuais naquela área.
Indignadas, elas vestiram os maiores decotes e as menores saias e saíram às ruas para protestar. Ativistas com minissaias, lingerie, cinta-liga e decotes ousados tomaram
as ruas e o evento acabou gerando uma onda de “Marchas das Vadias” pelo mundo.
Desde a primeira, já foram 15 eventos, e ainda há mais dezenas marcados até outubro. Nesta “Marcha das Vadias” em São Paulo, a organização espera reunir 2.500 pessoas. No próximo dia 18, o evento acontece em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Brasil
A marcha já aconteceu em mais de 70 cidades e finalmente chegou ao Brasil depois de a redatora curtibana, Madô Lopez, de 28 anos, criar uma página para o evento no Facebook. "Acho que faz todo o sentido ter uma marcha dessa em um país machista como o Brasil", diz. Não faz muito tempo, o Brasil assistiu – em parte perplexo, em parte aplaudindo – uma estudante loira ser vaiada e quase linchada em uma universidade porque usava um vestido justo e curto. Todos lembram.
Objetivo
A marcha é um protesto contra a mentalidade, tão antiga quanto disseminada, de que a mulher é a verdadeira causadora da violência sexual da qual é vítima. Está presente na cabeça dos agressores: "ela estava de calça justa ou de saia curta", justificativa comum nos depoimentos de estupradores; dos delegados "como você estava vestida quando foi abordada pelo estuprador? de saia? então pode voltar pra casa" (e é por isso que foram criadas as delegacias da mulher); e das próprias mulheres – quem nunca ouviu um comentário jocoso sobre o decote escandaloso da vizinha?
Responsabilidade
Se pararmos só um pouquinho para pensar nesse debate com atenção, surge rapidamente a dúvida: será que as vítimas de violência sexual também se sentem culpadas pelo estupro?
"Sim, todas", diz a psicóloga Ana Paula Mullet Lima, da Universidade Federal de São Paulo, que trabalha no atendimento de mulheres estupradas. "Sempre se perguntam por que com elas, o que fizeram para merecer aquilo. Nosso trabalho é fazê-las entender que foram vítimas de uma doença social, que vê a mulher como objeto passível de uma violência desse tamanho. É um processo longo e doído. A violência sexual desintegra a vítima, que foi literalmente invadida. É muito humilhante. Essas situações não envolvem só a penetração. Tem todo um terror. Muitas vezes os agressores estão armados e dizem que vão matá-las durante o ato e até chegam a urinar em cima delas. Elas sentem vergonha, querem esquecer aquilo e não procuram tratamento. Só vão procurar ajuda quando estão completamente destroçadas: deprimidas, paranóicas".
Ajuda
A recuperação dessas vítimas, segundo Ana Paula, fica ainda mais difícil quando os parentes e amigos também duvidam da responsabilidade delas sobre o estupro. "Quando elas engravidam do agressor, é comum que os namorados e maridos as deixem. Questionam o estupro, dizem que o filho é de um amante. Acontece em todas as classes sociais". O caminho para mudar essa mentalidade no Brasil é longo. Alguns passos estão sendo dados nesse sábado, na Avenida Paulista, e no próximo dia 18 na capital mineira.

(*) Com informações Marie Claire

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