domingo, 19 de fevereiro de 2012

'Foi um júri exaustivo pelo tempo que durou', diz juíza do caso Eloá

A juíza Milena Dias, que comandou o julgamento de Lindemberg Alves, falou pela primeira vez sobre os quatro dias de tribunal e explicou por que não reagiu imediatamente a
uma ofensa da advogada de defesa de Lindemberg, Ana Lúcia Assad [foto].
Durante quatro dias, a atenção de todo o país esteve voltada para Milene Dias. A juíza foi quem condenou Lindemberg Alves a 98 anos e 10 meses de prisão em um dos julgamentos mais longos da história de São Paulo. “Foi um júri exaustivo, sim, desgastante fisicamente pelo tempo que durou”, disse.
A juíza, de 38 anos, presidiu mais de 500 julgamentos em 13 anos de magistratura. Durante o júri, a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, disse à juíza que ela precisava voltar a estudar. Milena Dias disse que não reagiu à ofensa porque os jurados precisavam de um ambiente de serenidade para julgar o futuro do réu.
“Foi isso que me motivou o julgamento inteiro e que me fez tomar a decisão em relação ao ataque à minha honra e ao Poder Judiciário no momento adequado, ou seja, após a conclusão do julgamento”, esclareceu.
Milena Dias já pediu ao Ministério Público para investigar a conduta da advogada Ana Lúcia Assad e disse que a pena de Lindemberg foi adequada aos crimes que ele cometeu. “Ela atendeu aos anseios da sociedade, ali, naquele momento, representada pelos sete jurados que integraram o conselho de sentença”, completou. Procurada por telefone pela reportagem do SPTV, Ana Lúcia não quis comentar sobre o caso.
Anulação
A promotora Daniela Hashimoto [foto], que participou do julgamento que condenou
Lindemberg Alves, afirmou, na última sexta-feira, 17, ao G1, que não acredita na anulação do júri que terminou na noite da quinta (16). A advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, anunciou logo após a leitura da sentença que pedirá a anulação do julgamento.
“Durante os quatro dias de julgamento, ela [Ana Lúcia Assad] fez diversos requerimentos, procurando eventualmente cavar ou alegar depois uma nulidade. Não teve nenhuma irregularidade. Muito pelo contrário, todo mundo viu tudo que foi resguardado. Então, no meu entendimento, acredito que não [haverá anulação]”, declarou Daniela Hashimoto.
Ana Lúcia Assad tem cinco dias para entrar com o pedido de nulidade no Tribunal de Justiça. Depois, ela terá oito dias para apresentar os fundamentos do recurso. A decisão de anular ou não o júri caberá aos desembargadores do tribunal.
Condenação
Apesar da pena de quase 100 anos de reclusão, a legislação brasileira determina que uma pessoa condenada só cumpra até 30 anos em regime fechado. De acordo com a promotora, a redução da pena na prática não lhe causa nenhuma frustração.
“Para mim, não era tão importante o quanto da pena, mas que ele [Lindemberg] fosse condenado. O promotor de justiça aplica a lei. Se a lei estabelece que são 30 anos no máximo, são 30 anos que ele vai ficar preso. Mas acho que o efeito maior não é tanto da pena, mas sim da condenação. De que foi condenado, de que a sociedade deu essa resposta, de que não pode tirar a vida de uma pessoa, não pode ter essa conduta”, comentou a promotora.
“Quando eu analisei o processo, eu sempre tive convicção absoluta que ele fez tudo o que acabou sendo condenado, do que era acusado. É claro que a gente não tem como ter absoluta certeza do resultado porque cabe a sete cidadãos. A minha preocupação, o que eu sempre pedi internamente era que eu tivesse clareza para conseguir passar a mesma convicção que eu tive para os jurados”, disse Daniela.
Novo processo
Na quinta, Daniela Hashimoto havia informado que Lindemberg deverá responder a um novo processo, dessa vez por porte ilegal de arma. De acordo com ela, peças do processo do
caso Eloá [foto] serão encaminhadas ao Ministério Público para que outro promotor avalie a possibilidade de instaurar um novo procedimento que apure a responsabilidade de Lindemberg por ter adquirido um revólver calibre 32 sem autorização para isso.
“Como ele não tinha falado ainda, a gente não sabia da onde que era essa arma. Então, no interrogatório ele acabou reconhecendo que ele já tinha comprado essa arma 20 dias antes e andava com essa arma supostamente para todos os lugares”, disse a promotora. O caso vai ser encaminhado para o promotor de justiça local, segundo Daniela. “Na verdade, não é questão de mudar [a pena]. Iria crescer mais três, quatro anos nesse total dos 98 anos. Mas o importante é que se praticou um crime, vai ter responder também.”
Em seu depoimento à Justiça no Fórum de Santo André, o condenado chegou a afirmar que pagou R$ 700 para comprar o revólver de um homem num parque.
Segundo a promotora, essa arma foi usada para matar Eloá, e tentar assassinar Nayara Rodrigues e o policial militar Atos Valeriano. Também foi utilizada para manter reféns em cárcere privado Eloá, Nayara, Iago e Victor no apartamento da vítima fatal num conjunto habitacional popular. O mesmo revólver ainda serviu para fazer disparos durante o sequestro, há três anos, entre os dias 13 a 17 de outubro.

(*) Com informação G1

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