sexta-feira, 4 de maio de 2012

Porque escrevo

Eu escrevo. Escrevo desde que me lembro, mesmo sem nunca ter sido um grande aluno de português. Meu domínio da gramática só dá pro gasto. Tenho dificuldades com vírgulas, com crases, com o porquê, o porque, o por que e o por quê e com diversos outros detalhes que fazem com que a cada publicação de um texto, um frio no estômago apareça: “Qual cagada fiz dessa vez?”
Acho que melhorei muito com o tempo e ainda vou melhorar, mas tomei a decisão de expor meu português claudicante quando me deparei com o mesmo tipo de angústia em outros escritores. A maioria, muito mais importantes do que jamais serei. Para não fugir à regra, encontrei conforto no mestre Rubem Alves, que um dia aliviou meu sono ao escrever assim:
“Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual
nunca sonhei. Nunca me passou pela ideia que eu viria a ser escritor… Sou ruim em gramática, erro a acentuação. E há mesmo uma pessoa que se dedicava a escrever-me longas cartas para corrigir meu português. Parou de escrever. Acho que desistiu. Como é bem sabido, sou um mau aluno, especialmente quando o professor quer ensinar-me coisas que eu não quero aprender. Pena que o dito professor voluntário, nunca tivesse feito comentário algum sobre o que eu escrevia...”

Rubem nunca entendeu a razão de alguém comentar os erros de português e não comentar o conteúdo do texto. Mas isso é uma escolha. Ou não?
E então recebo um email assim: “Luciano, sou advogada na cidade de Franca/SP, e lhe escrevi há muito tempo sobre um processo em que a TIM enviou um aparelho celular sem o consentimento da minha cliente. Além disso, a referida empresa telefônica emitiu várias faturas, sendo que ainda negativou o nome dela. Por causa disso, ingressamos com uma ação declaratória de inexigibilidade de débito cumulada com pedido de indenização por danos morais em 2008. Uma semana após ter ingressado com a ação, li um artigo seu chamado “A Vendetta” em que você disse ter publicado um texto reclamando da TIM, que tentava lhe empurrar um telefone celular que você não havia pedido. Juntei dois artigos que você escreveu sobre o fato e tenho certeza que eles auxiliaram o convencimento do juiz que, depois de 4 anos, proferiu a sentença em favor da minha cliente, condenando a empresa TIM a pagar o valor de R$ 10.000,00 que atualizados chegaram no quantia de R$ 14.077,76. Demorou bastante, mas a justiça foi feita (atente-se que a minha cliente era idosa e tinha prioridade no julgamento do processo).”
Pois é... Nunca tenho ideia do que acontece com um texto depois que ele é lançado para o mundo. Sei que tem gente que gosta, tem gente que detesta e eventualmente tem gente que faz o que fez a advogada acima, dando uma utilidade que eu jamais imaginaria a um simples desabafo. É então que as minhas vírgulas mal colocadas, concordâncias discordantes e pontuações sôfregas perdem importância diante do impacto causado pelo texto.
Como diz meu amigo Minás, “a língua é feita por quem fala e por quem escreve. Aos gramáticos só resta tentar botar ordem na suruba. E aos filólogos, cavucar origens, paleontologicamente.”
O jeito é continuar estudando e aprendendo. Quero escrever cada vez mais corretamente, quero respeitar a gramática, mas sem deixar que a busca pela perfeição me cale.
O final daquele texto de Rubem Alves é meu mote de vida:
“Concordo mesmo é com Patativa do Assaré: ‘É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada …’”.










(*) Por Luciano Pires – Café Brasil

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