sexta-feira, 20 de abril de 2018

ROUPA FEMININA PRODUZIDA EM PENITENCIÁRIA É DESTAQUE PELA 2ª VEZ NO MINAS TREND


A marca alcançou o terceiro lugar do Ready to Go, disputa que identifica e premia os novos talentos do mundo da moda
Teresa, Alessandra, Marcella, Daniela, Brenda e Dayane são os nomes das mulheres que estão presas e, de segunda a sexta-feira, dão vida à marca de roupas Libertees, destaque no Minas Trend pelo segundo ano consecutivo. Agora, essas mulheres também dão nome às peças da nova coleção da marca, chamada Inspiração.
A confecção instalada no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, juntou, há cerca de seis meses, educação, arte e trabalho, e criou esse projeto inovador que emprega cinco presas e utiliza a produção das aulas de arte da unidade prisional para compor suas roupas.
Os desenhos criados pelas detentas viram estampas nos tecidos que são transformados em peças exclusivas. Com tão pouco tempo de vida, a marca foi convidada novamente para participar do maior evento de moda do estado, o Minas Trend Preview, terceiro maior do segmento no país.
A união de dois temas da área de ressocialização – ensino e trabalho – é vista como essencial pela diretora de Atendimento da unidade prisional, Maristela Esmerio Andrade.
“A empresa é muito parceira, sempre visualizou o potencial das presas, não apenas como funcionárias, mas como humanas. É muito bom a gente poder trabalhar integrado, de forma a libertar não só com a arte trabalhada em sala de aula, mas tecendo a própria liberdade nas peças produzidas. É catarse, liberação do ‘eu’ entre telas e estamparia”, afirma.
A marca ocupa um espaço no estande do concurso Ready To Go. Pela segunda vez, foi destaque no concurso e conquistou o terceiro lugar. A disputa tem como objetivo identificar, capacitar, qualificar e divulgar novos talentos da moda mineira, dando mais visibilidade a novos empreendedores de pequenas empresas desse meio. A seleção é feita por jornalistas, compradores e influenciadores que participam do Minas Trend.
Júlia Ferreira (*), 29 anos, começou a trabalhar na confecção em dezembro. A única coisa que já havia feito de costura foi colcha de retalhos e ela garante que não sabia nada sobre as máquinas e os outros procedimentos.
“Hoje, eu consigo trabalhar com tudo aqui, posso até não saber algo, mas a Alessandra, nossa instrutora, sempre me ensina e ajuda. Tenho gostado muito de poder vir para cá todos os dias, para mim isso é libertador. Aqui dentro eu não me sinto presa, por alguns instantes me sinto livre. É tanta coisa que eu aprendo aqui que me transporta para outro lugar. Nunca imaginei ser possível algo assim dentro do sistema prisional”, revela.
A Coleção Inspiração
Trinta e seis peças compõem a coleção Inspiração. São vestidos, blusas, t-shirts, saias, shorts, calças e macacões com muitas cores e listras. Todas as estampas vieram das aulas de artes do complexo. Segundo as donas da marca, Marcella Mafra e Daniela Queiroga, o nome do acervo vem do trabalho das presas.
“Cada vez mais a gente se inspira com o que fazemos. As presas tiveram uma evolução muito grande em tudo. O astral delas é algo que contagia, estão sempre dispostas a mudar, de querer algo novo e legal. Elas são muito dedicadas”, observa Marcella.
“Elas aceitam todos os desafios. Se alguma delas não sabe fazer tal coisa, ela se dispõe imediatamente a aprender e pega muito rápido. O nome da coleção traduz o que essas meninas nos trazem. Elas nos inspiram diariamente, por essas estampas, pela história de cada uma. Nós queremos espalhar essa inspiração, transferir isso de alguma forma para as pessoas através das nossas peças de roupa”, complementa Daniela.
Libertees
O trabalho no complexo começou em 2013, quando Marcella abriu uma confecção no local. Inicialmente a produção era voltada para outras empresas, atividade que ainda se mantêm. Mas Marcella possuía uma inquietação, uma vontade de fazer algo diferente.
“Eu queria ter uma marca, mas não queria uma coisa de qualquer jeito, queria algo com propósito, que tivesse algum sentido e se relacionasse com a unidade prisional. E aí teve essa exposição dos trabalhos da escola da penitenciária, que eu vi no hall e aí isso me deu uma ideia, que acabou virando a Libertees”, conta.
Empolgada com a nova descoberta, Marcella procurou uma antiga amiga, a psicopedagoga Daniela Queiroga, que de imediato topou o projeto. “Eu me apaixonei pela ideia, estava sem trabalhar a um tempo e buscava algo que me brilhasse os olhos. Quando eu soube do projeto abracei de imediato e comecei como representante da marca. Então, participamos de uma ação de uma impulsionadora de produtores, e a partir daí a Libertees foi ganhando corpo, conceito, cara e alma, que é o nosso grande diferencial”, salienta.
Segundo a dona da marca, o sonho só foi possível graças à parceria com o sistema prisional mineiro. “A Libertees não surgiu pronta, com o intuito de aproveitar à penitenciária, foi totalmente inverso. As coisas foram sendo descobertas na unidade e a marca foi surgindo. Minha ideia sempre foi valorizar o trabalho do sistema prisional, mostrar o que tem de bom e não só as coisas ruins que são ditas por quem não conhece”, destaca Marcella.
A marca já vendeu roupas para lojas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e algumas lojas de Belo Horizonte também vendem as peças. A Libertees foi selecionada e está participando de um projeto da Federação de Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Apex- Brasil, que é uma consultoria de exportações. A intenção é que as peças produzidas no complexo ganhe o mundo.
Mais do que um negócio rentável, o objetivo maior do projeto é o trabalho social. “Queremos trazer para a unidade prisional trabalho e qualificação, diferente de uma fábrica lá fora, onde você contrata pessoas qualificadas. Aqui nós capacitamos, ensinamos, é uma cadeia produtiva totalmente diferente e muito gratificante”, pontua Daniela.
(*) nome fictício
Foto: Dirceu Aurelio/Seap
Fonte: Central de Imprensa/Segov

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