A marca alcançou o terceiro lugar do Ready to Go, disputa que identifica
e premia os novos talentos do mundo da moda
Teresa, Alessandra, Marcella, Daniela, Brenda
e Dayane são os nomes das mulheres que estão presas e, de segunda a
sexta-feira, dão vida à marca de roupas Libertees, destaque no Minas
Trend pelo segundo ano consecutivo. Agora, essas mulheres também dão
nome às peças da nova coleção da marca, chamada Inspiração.
A confecção instalada no Complexo
Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, juntou, há cerca de
seis meses, educação, arte e trabalho, e criou esse projeto inovador que
emprega cinco presas e utiliza a produção das aulas de arte da unidade prisional
para compor suas roupas.
Os desenhos criados pelas detentas viram
estampas nos tecidos que são transformados em peças exclusivas. Com tão pouco
tempo de vida, a marca foi convidada novamente para participar do maior evento
de moda do estado, o Minas Trend Preview, terceiro maior
do segmento no país.
A união de dois temas da área de
ressocialização – ensino e trabalho – é vista como essencial pela diretora de
Atendimento da unidade prisional, Maristela Esmerio Andrade.
“A empresa é muito parceira, sempre
visualizou o potencial das presas, não apenas como funcionárias, mas como
humanas. É muito bom a gente poder trabalhar integrado, de forma a libertar não
só com a arte trabalhada em sala de aula, mas tecendo a própria liberdade nas
peças produzidas. É catarse, liberação do ‘eu’ entre telas e estamparia”,
afirma.
A marca ocupa um espaço no estande do
concurso Ready To Go. Pela segunda vez, foi destaque no concurso e conquistou o terceiro
lugar. A disputa tem como objetivo identificar, capacitar, qualificar e
divulgar novos talentos da moda mineira, dando mais visibilidade a novos
empreendedores de pequenas empresas desse meio. A seleção é feita por
jornalistas, compradores e influenciadores que participam do Minas
Trend.
Júlia Ferreira (*), 29 anos, começou a trabalhar na confecção em dezembro. A única coisa
que já havia feito de costura foi colcha de retalhos e ela garante que não
sabia nada sobre as máquinas e os outros procedimentos.
“Hoje, eu consigo trabalhar com tudo aqui,
posso até não saber algo, mas a Alessandra, nossa instrutora, sempre me ensina
e ajuda. Tenho gostado muito de poder vir para cá todos os dias, para mim isso
é libertador. Aqui dentro eu não me sinto presa, por alguns instantes me sinto
livre. É tanta coisa que eu aprendo aqui que me transporta para outro lugar.
Nunca imaginei ser possível algo assim dentro do sistema prisional”, revela.
A Coleção Inspiração
Trinta e seis peças compõem a coleção Inspiração.
São vestidos, blusas, t-shirts, saias, shorts, calças e macacões com muitas
cores e listras. Todas as estampas vieram das aulas de artes do complexo.
Segundo as donas da marca, Marcella Mafra e Daniela Queiroga, o nome do acervo
vem do trabalho das presas.
“Cada vez mais a gente se inspira com o que
fazemos. As presas tiveram uma evolução muito grande em tudo. O astral delas é
algo que contagia, estão sempre dispostas a mudar, de querer algo novo e legal.
Elas são muito dedicadas”, observa Marcella.
“Elas aceitam todos os desafios. Se alguma delas não sabe fazer tal
coisa, ela se dispõe imediatamente a aprender e pega muito rápido. O nome da
coleção traduz o que essas meninas nos trazem. Elas nos inspiram diariamente,
por essas estampas, pela história de cada uma. Nós queremos espalhar essa
inspiração, transferir isso de alguma forma para as pessoas através das nossas
peças de roupa”, complementa Daniela.
Libertees
O trabalho no complexo começou em 2013, quando Marcella abriu uma
confecção no local. Inicialmente a produção era voltada para outras empresas,
atividade que ainda se mantêm. Mas Marcella possuía uma inquietação, uma
vontade de fazer algo diferente.
“Eu queria ter uma marca, mas não queria uma coisa de qualquer jeito,
queria algo com propósito, que tivesse algum sentido e se relacionasse com a
unidade prisional. E aí teve essa exposição dos trabalhos da escola da
penitenciária, que eu vi no hall e aí isso me deu uma ideia, que acabou virando
a Libertees”,
conta.
Empolgada com a nova descoberta, Marcella procurou uma antiga amiga, a
psicopedagoga Daniela Queiroga, que de imediato topou o projeto. “Eu me
apaixonei pela ideia, estava sem trabalhar a um tempo e buscava algo que me
brilhasse os olhos. Quando eu soube do projeto abracei de imediato e comecei
como representante da marca. Então, participamos de uma ação de uma
impulsionadora de produtores, e a partir daí a Libertees foi ganhando
corpo, conceito, cara e alma, que é o nosso grande diferencial”, salienta.
Segundo a dona da marca, o sonho só foi possível graças à parceria com o
sistema prisional mineiro. “A Libertees não surgiu pronta, com o
intuito de aproveitar à penitenciária, foi totalmente inverso. As coisas foram
sendo descobertas na unidade e a marca foi surgindo. Minha ideia sempre foi
valorizar o trabalho do sistema prisional, mostrar o que tem de bom e não só as
coisas ruins que são ditas por quem não conhece”, destaca Marcella.
A marca já vendeu roupas para lojas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul
e algumas lojas de Belo Horizonte também vendem as peças. A Libertees
foi selecionada e está participando de um projeto da Federação de Indústrias de
Minas Gerais (Fiemg), Apex- Brasil, que é uma consultoria de exportações. A
intenção é que as peças produzidas no complexo ganhe o mundo.
Mais do que um negócio rentável, o objetivo maior do projeto é o
trabalho social. “Queremos trazer para a unidade prisional trabalho e
qualificação, diferente de uma fábrica lá fora, onde você contrata pessoas
qualificadas. Aqui nós capacitamos, ensinamos, é uma cadeia produtiva totalmente
diferente e muito gratificante”, pontua Daniela.
(*) nome
fictício
Foto: Dirceu Aurelio/Seap
Fonte: Central de Imprensa/Segov
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