Obra inédita “Os loucos da Rua Mazur” traz visão polêmica sobre
perseguição polaca aos judeus durante o Holocausto
Por
Jéssica
Balbino (*)
Vencedor do Prêmio LeYa em 2017, o escritor
português João Pinto Coelho é um dos destaques da programação do Festival
Literário de Poços de Caldas, o Flipoços, que neste ano ocorre entre
os dias 28 de abril a 06 de maio no Espaço Cultural da Urca, com entrada
gratuita. Esta é a primeira vez que o escritor visita o Brasil e um festival
literário no país.
Durante o evento, João Pinto Coelho participa da
mesa “Literatura Lusófona”,
no dia 06 de maio, às 16h30, para falar sobre o livro inédito “Os loucos da
Rua Mazur”, em que, na trama, o autor regressa à Polônia da Segunda Guerra
Mundial para apresentar uma galeria de personagens inesquecíveis, levando o
leitor a conhecer e acompanhar uma pequena cidade polonesa antes, durante e
depois da guerra e o contexto de um terrível massacre e que, recentemente,
causou polêmica entre a imprensa polaca e o autor.
Pela primeira vez no Brasil, ele pretende destacar
a liberdade de expressão durante a passagem pelo país. “Nestes tempos tão
conturbados, onde os ataques à liberdade de expressão se sucedem, muitas vezes
a par com a instrumentalização da cultura, gostava de sublinhar o papel crucial
da literatura, o seu imenso poder de contrariar os maus ventos que nos sopram
de todo o lado. Poucos dias antes de o meu livro ‘Os Loucos da Rua Mazur’, sair
para as livrarias, fui atacado de forma surpreendente por uma parte
significativa da imprensa polaca, que me acusava de sujar a imagem e a história
do país, ao recordar a participação de muitos polacos na perseguição aos judeus
durante e após o Holocausto. Poucas semanas depois, foi aprovada na Polônia uma
lei infame que criminaliza a simples sugestão de que essa colaboração existiu –
e existiu, os historiadores provaram-no há muito. Essa tentativa de escrever
uma história oficial e mandar prender aqueles que a ponham em causa mostra bem
como pode ser importante o papel resistente dos artistas e dos criadores um
pouco por todo o mundo. Havendo oportunidade, esse é um dos temas que não
gostaria de deixar de abordar na minha visita ao Brasil”, destacou.
Além do lançamento do livro, João Pinto Coelho participa
também de um bate-papo em homenagem ao Dia Mundial da Língua Portuguesa,
marcado para o sábado (5 de maio), às 18h, no Teatro Benigno Gaiga. Na mesa,
ele vai conversar com autores como os moçambicanos Dany Wambire e a brasileira
Andréa Del Fuego. A mediação é de Susana Ventura.
“É a minha primeira vez no Brasil e em um festival
literário no País. A expectativa é muito grande, conheço o prestígio desse
festival e poder estar presente num lugar tão distante, mas, simultaneamente,
tão próximo, onde se fala de livros e se discute uma língua comum tem de ser
entusiasmante”, declarou o autor.
Lançamento no Flipoços
O livro premiado do autor, “Os loucos da Rua
Mazur”, será publicado no Brasil pela LeYa, que não mediu esforços para
lançá-lo no Flipoços. “Quando estava pensando em que autor português trazer ao
festival esse ano”, conta a curadora Gisele Ferreira, “busquei exatamente por
algo inédito. Quando soube do João Pinto Coelho e vi que ele já tinha um livro
editado no Brasil, de um assunto que inclusive me interessa muito, comecei a
pesquisar sobre ele. Vi que havia ganhado o Prêmio Leya em 2017 com o ‘Os
loucos da Rua Mazur’ na mesma temática e imediatamente falei com a editora LeYa
no Brasil. Coincidência ou não, a editora estava com o livro no cronograma para
lançar apenas em julho, mas quando percebeu que poderia aproveitar o Flipoços
para isso, ela colocou o livro no prelo rapidinho. O livro chegará aqui em
Poços de Caldas com cheirinho de tinta fresca”, enfatiza ela.
Sobre o livro, o autor diz: “A narrativa divide-se
em dois cenários distantes: França, no início do século XXI, e uma cidade no Nordeste
da Polônia, entre 1934 e o fim da Segunda Guerra Mundial. Conta-nos a história
de três pessoas que se reúnem numa livraria de Paris para escrever um livro.
Esse livro, que começa por ser um regresso ao passado para contar a história de
um desastre terrível ocorrido na Polônia durante a ocupação nazi, cedo se
transforma numa arma de arremesso, num instrumento poderoso que eles utilizam
para se redimirem, mas também para se descobrirem e magoarem uns aos outros”,
contou.
Antes deste título, João Pinto Coelho, que nasceu
em Londres, em 1967, publicou também pela LeYa a obra “Pergunte à Sarah
Gross”, que trata de uma
pequena cidade no Sul da Polônia, chamada Oswiécim, e da forma como, em 1939,
se transforma em Auschwitz, o mais eloquente dos símbolos materiais do
Holocausto nazista.
O escritor acredita que a visita ao Flipoços
fortalece os laços entre a literatura brasileira e a portuguesa. “Vejo com
grande entusiasmo essa aproximação. Cheguei há pouco tempo de Paris, onde, a
convite da Fundação Calouste Gulbenkian, tive a oportunidade de
participar no Printemps Littéraire Brésilien, um acontecimento
extraordinário que visa promover a literatura brasileira. Ao convocar
igualmente autores portugueses, está a dar-se mais um passo na construção das
tais pontes sólidas que as duas culturas há muito proclamam. Este é apenas um
exemplo dessa aproximação, e o Flipoços tem contribuído para a crescente
afirmação dos autores dos dois lados do Atlântico junto aos leitores dos dois
países. Não falo apenas da reafirmação de Machado de Assis, Clarice Lispector
ou Saramago, mas também das novas literaturas de Portugal e Brasil”, pontuou.
Para a curadora do Flipoços, Gisele Corrêa Ferreira,
que há oito anos realiza mesas com autores lusófonos para valorizar a língua
portuguesa, este encontro só fortalece a parceria entre Brasil e Portugal.
“Nossos países tem muito mais em comum do que simplesmente a língua e nossos
encontros vêm no sentido de fortalecer estes laços, de valorizar nossa cultura
de fazer um intercâmbio entre o que está sendo publicado em Portugal e no
Brasil”, destacou.
A vinda de João Pinto Coelho ao Brasil tem
participação direta da Embaixada de Portugal, através do apoio e patrocínio do Camões
– Instituto da Cooperação e da Língua.
Além da participação nas mesas, após o encerramento
do Flipoços em Poços de Caldas, a curadora do festival acompanhará o autor à
Belo Horizonte, a convite do Sesc Palladium, como um desdobramento do festival
na capital mineira. Na sequência, eles irão para Brasília (DF), a convite do Instituto
Camões e da Universidade Federal de Brasília (UNB), para um bate-papo com
universitários e professores.
Sobre o Autor
João Pinto Coelho é arquiteto e professor de artes
visuais em Portugal, onde vive. Sua primeira obra foi publicada em 2014 e três
anos depois ele recebeu o prêmio LeYa, o maior em valores – cem mil euros –
para uma obra inédita escrita em língua portuguesa e escolhida entre mais de
400 originais de 18 países.
O Flipoços
O Flipoços 2018 e a 13ª Feira Nacional do Livro de
Poços de Caldas são realizados pela GSC Eventos Especiais e acontecem de 28 de
abril a 06 de maio no Espaço Cultural da Urca.
O Flipoços 2018 conta com o patrocínio do DME, BDMG
Cultural, Codemge, Climepe, Fibrax e Prefeitura de Poços de Caldas. Parceiro
Cultural Sesc Minas, Instituto Camões, Editoras Sextante, Dublinense, Malê,
Faro Editorial, Aletria, Leya, Trilha Educacional, Edições Sesc São Paulo.
Mais informações podem ser obtidas através do telefone
(35) 3697 1551 e a programação completa está à disposição na revista virtual no
site www.flipocos.com.
(*) jornalista e produtora cultural
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