domingo, 6 de maio de 2012

Gregos vão às urnas desiludidos com políticos e com a crise

A enorme escola de Grava, um dos maiores centros eleitorais de Atenas, está em franca movimentação. Muitos gregos participam da escolha de um entre os 32 partidos que hoje disputam as eleições legislativas antecipadas, com dois partidos do centro defendendo medidas de austeridade e outro a opor-se ao memorando com a troika.
O voto é obrigatório na Grécia, mas não há penalizações para quem não votar. A maioria dos eleitores com quem falamos, no entanto, não está aqui por obrigação. Está aqui para dizer alguma coisa. E muitos não veem a questão como simplesmente a favor ou contra o memorando.
“Em quem é que votei?”, repete Angel, que está aqui com a mulher e os quatro filhos pequenos. “Posso dizer em quem não votei”, começa, pegando no molho de papéis com os nomes dos partidos e os candidatos que cada eleitor recebe. “Não votei nestes”, diz, mostrando o papel do Nova Democracia (centro-direita), o partido previsto para vencer as eleições, embora sem maioria, com uns magros 22 a 24%. “E também não votei nestes”, continua, ao chegar ao papel do PASOK (centro-esquerda), entre 18 e 20%.
“Não votei em nenhum deles porque acho que não podem fazer nada pela
Grécia”, explica, referindo-se aos dois partidos que têm se alternado no poder desde 1974. “Votei em algo diferente”, diz, enquanto chega ao papel do Gregos Independentes, formado por um antigo deputado do Nova Democracia (Panos Kammenos). É um partido que acusa os políticos que assinaram o memorando de serem “traidores” e que compete com o Syriza, aliança de esquerda radical, e com o Partido Comunista pelo terceiro lugar na votação. “Não é que espere que façam grande coisa”, diz o engenheiro mecânico, que “tal como toda a gente”, teme pelo seu emprego com todos estes cortes e austeridade. “Mas temos mesmo de mudar.”
O partido mais viável"
Já Katerina, uma geóloga de 30 anos (muitas pessoas preferem não dar o sobrenome quando discutem a escolha de voto) escolheu o Nova Democracia, de Antonis Samaras. “Acredito que é o partido mais fiável, o único que tem experiência para pôr o país fora da crise”, diz. Katerina trabalha na universidade em um projeto financiado pela União Europeia, por isso não teme pelo seu futuro imediato, embora “trabalhe mais horas por menos dinheiro”. “Mas tenho família, e amigos. Toda a gente está sendo afetada.”
Curiosamente, não conseguimos falar com um eleitor do PASOK além dos que
estão fazendo campanha, entregando panfletos à porta da escola. Mas nem o homem de meia-idade nem a mulher que estão distribuindo os panfletos, nem nenhum dos ocasionais apoiantes que passam depois de os cumprimentar, está com grande vontade de falar.
A jovem Ana Paragiou não se importa nada de dizer que votou no Syriza. “Não vais encontrar nenhum jovem que tenha votado no Nova Democracia ou no PASOK”, garante a estudante de Matemática, de 24 anos. Questionada se não teme que um voto no Syriza possa levar a Grécia a sair do euro (o partido defende que se questione o memorando e que eventualmente se recuse o pagamento de parte da dívida), ela diz que não é esta a questão mais importante. “Os políticos são o nosso principal problema – estes políticos, esta corrupção. Não podemos continuar a votar neles.”
A Grécia não oferece nada
Nem todos querem dizer em quem votou. “Preferia manter isso para mim”, diz Katerina Vangeli, que está sentada fumando um cigarro no ponto de ônibus. “Foi muito difícil decidir. Foi a primeira vez que estive tão indecisa e a primeira que estive tão zangada.”
Katerina é professora de línguas, mas diz que está prestes a perder o emprego quando a sua escola se juntar a outra. “Tenho 51 anos, não sei o que vou fazer. Mas o problema não sou só eu. São muitas pessoas como eu, professores, na mesma situação. E mais: dizem que há ainda jovens com emprego? Eu não acredito. O que eu vejo são jovens com 2,80 euros no bolso, para o bilhete de metro, irem procurar emprego.”
“Este sítio chamado Grécia”, diz, visivelmente emocionada, “não oferece nada”. “Nada é decidido pelas capacidades das pessoas, tudo é decidido pelos partidos”, queixa-se. “E infelizmente, não acho que nada vá mudar depois destas eleições”. “Fora com eles!”
Antes de chegar à escola, no ônibus lotado, Niki, uma senhora já reformada, aponta-nos o lugar ao lado dela para nos sentarmos. Sorri muito, mostrando os dentes de ouro, quando ouve “Portugal”. “Ah, estamos todos na mesma”, repara.
Niki já votou e está muito contente com a sua escolha, mas não quer dizer alto o
nome do partido. Desenha com o seu dedo as letras na palma da mão: “C” e “A”. É o partido neonazi Chrysi Avyi (Aurora Dourada). “Fora com eles, fora!”, diz, em alemão, apontando com o olhar os africanos e asiáticos que estão no ônibus.
Ela fala alemão porque viveu e trabalhou 28 anos na Alemanha. Mas não vê contradição nenhuma em querer estes estrangeiros fora da Grécia, e já ter sido ela em tempos uma estrangeira noutro país, uma imigrante. “Eles roubam”, queixa-se. Aponta para o seu colar de ouro com uma cruz: “Tens colar de ouro? Roubam-o.” Agora os brincos. “Tens brincos de ouro? Levam-os”. Mais: “entram nas casas, levam tudo”.
“Se és estrangeira e és assaltada na Grécia, dizes: fui roubada na Grécia. Mas não foram gregos. Foram estes imigrantes. Isso é mau para nós.”

(*) Com informação Publico.pt e AFP

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Prezados (as), reservo-me ao direito de moderar todos os comentários. Assim, os que me chegarem de forma anônima poderão não ser publicados e, desta forma, tão menos respondidos. Grato pela compreensão, espero contribuir, de alguma forma, com as postagens neste espaço.