sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Tão Grande Quanto Ignorado”

A partir do dia 1° de junho, até o dia 12, a Galeria de Arte da Urca, no Espaço Cultural da Urca [foto], na Praça Getúlio Vargas, área central de Poços de Caldas, município do Sul de Minas Gerais, abre suas portas para a Comemoração dos 100 de Bruno Filisberti sob a responsabilidade do artista plástico poços-
caldense Marcelo Abuchalla [foto], do Studio 1.3, que fala sobre o evento no texto que segue abaixo.
Bruno teve a infância e a adolescência pobres. Desde muito cedo, por obra do destino, foi apontado como bom desenhista por Elvino Pocai aparentado da família Satti. Família responsável por Bruno. Em Poços teve três professores. Mudou-se para Olympia, depois para São Paulo e, com muita dificuldade, tornou-se artista, como era usual naquela época, cursando as Bellas Artes. Durante dez anos estudou com Amadeu SCAVONNI. Voltou para Poços. Morreu nos anos 70.
2012 é o ano em que Bruno Filisberti completa 100 de nascimento. Iniciei, então, o trabalho de redescobrir quem foi esse pintor, materializando numa proposta de verticalizar sua obra. Sim, verticalizar. Tira-la do lugar comum do esquecimento, ou apenas das paredes, e coloca-la em seu devido lugar.
“Em uma exposição? Mas o que fazer? Não dá. Ficaria uma replica das exposições antigas”. Mais uma vez, por obra do destino, no Museu Histórico e Geográfico
de Poços
[foto]
fui surpreendido com um álbum de fotografias. Feito pelo Bruno. Ao vê-lo, suspeitei de que teria sido montado por sua irmã, a Gilda. Mas não, ele mesmo quem o fez. Bruno pelo Bruno. Perfeito pra começar. O trabalho que começou é o da reconstrução da história e da memória que, agora, é apresentada em uma primeira exposição acerca de seus 100 anos.
“SIMPLESMENTE O NOSSO TÃO GRANDE QUANTO IGNORADO BRUNO FELISBERTI”. Não, essa frase não é minha; é do Jurandir Ferreira, que nos deixou essa mensagem há 60 anos. Faz é tempo. Atendendo a um pedido do falecido jornalista e escritor Jurandir, é hora de arrumar e mostrar para todo mundo quem foi essa pessoa.
Vamos ao Bruno pelo Bruno. Ele nos apresenta nesse álbum, com certeza, o que foi mais relevante em sua vida ou pelo menos conseguiu coletar e organizar.
Temos nele apenas fotos de duas de suas obras premiadas, uma enorme quantidade de obras de artistas amigos. Amigos, família e com certeza um sem fim de imagens retratando o ateliê de sua casa. Tem matérias de jornais e documentos que confirmam a existência e o valor deste homem. Sobre o ATELIÊ, existem fotos coloridas e em preto e branco com gente, sem gente, com os pincéis, com as tintas, com as estatuas, com as crianças e quantas crianças! E um processo produtivo de observação, desenho, fotografia e, finalmente, a pintura que ele mesmo nos mostra através desse álbum! Quantos Brunos esse álbum, que remonta a fotos de 1930, traz?
Mostra que trabalhou na obra das Thermas [Antonio Carlos] e mostra uma última foto, datada de 73. Existem vários Brunos – em tela e fotos – deixando um registro da passagem do tempo. Todo esse material deixou nítido que é leviano tentar falar sobre o Bruno de uma só vez. Iniciamos com a exposição.
A vida e a obra de Bruno precisam ser visitadas, porque falar da vida dele é falar de Poços. É falar de momentos políticos, econômicos. É história, e nunca conseguimos contar uma parte sem detectar entrelaçamentos. As obras ajudam a contar a memória urbana de Poços. E a realidade de Poços, neste período, ajuda a contar a história de Bruno. No momento em que acaba o jogo, a economia local entra em colapso. Então, Bruno coloca Poços em uma posição de cidade produtora de uma arte de muito boa qualidade. Bruno pintou. Pintou tudo. Pintou Poços de Caldas com uma beleza invejável para os nossos dias, linda, onírica. Pintou centenas de poços-caldenses. Inclusive, foi um deles, o caboclo Teresiano, que lhe rendeu medalha e poema.
Mas, enfim, que legado todo é esse que Bruno nos deixou? Que mensagem é essa que fica gravada na obra desse homem tão grande quanto ignorado?
Nessa exposição, levanto a obra do Bruno pelo lado oficial. As informações foram buscadas no Museu Municipal, na Biblioteca Centenário, na PUC-Minas e, finalmente, na internet que, ironicamente, foi aonde encontrei maior número de informações concretas. E tudo isso aconteceu com o indiscutível apoio da secretária municipal de Turismo e Cultura. Junta-se tudo isso – álbum, recortes, fotos – e tem-se todo o material necessário para apresentar esse personagem.
É um grande quebra cabeça, e é impossível pensar tudo sozinho. Então, durante o trajeto da montagem e seleção do material, convidei a arquiteta Jéssica Polito para me ajudar. Nando Goulart, também arquiteto e designer, entrou na parceria, juntamente com a Center Molduras.

(*) Com informação do curador da comemoração, Marcelo Abuchalla, do Studio 1.3/Poços de Caldas

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