Bolsonaro repete ofensas de depoente a repórter e entidades de imprensa repudiam (Foto: reprodução portal G1) |
Parlamentares utilizaram a tribuna e as redes
sociais para repudiar ofensas do presidente à jornalista Patrícia Campos Mello,
da 'Folha de S. Paulo'
A demonstrada falta de decoro e
as ofensas proferidas na última terça-feira,
18, pelo presidente Jair Bolsonaro contra a repórter
Patrícia Campos Mello, do jornal “Folha de S. Paulo”, provocaram reações de
deputados e senadores.
Pela manhã, em frente ao
Palácio da Alvorada, o presidente questionou, com insinuação de caráter sexual,
a atuação de Patrícia Campos Mello em reportagens sobre o disparo massivo de
mensagens durante a campanha eleitoral.
“Ela queria um furo. Ela
queria dar o furo [pausa, pessoas riem] a qualquer preço contra mim”, disse
Bolsonaro.
Ex-funcionário de empresa de disparo em massa insulta repórter da Folha em CPI. (Foto: Agência Senado) |
Antes de Bolsonaro, Hans River
do Nascimento (foto
ao lado), ex-funcionário da empresa de marketing
digital Yacows, afirmou à CPI mista que apura a divulgação de notícias falsas que a jornalista se “insinuou”
para obter informações. O deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP), filho do presidente, também atacou a jornalista.
Senado
Durante sessão no Senado, três
senadores subiram à tribuna para prestar solidariedade à jornalista e também
para repudiar a fala de Bolsonaro. Nenhum senador defendeu o presidente Jair
Bolsonaro.
Veneziano Vital do Rêgo
(PSB-PB) disse que o presidente “ultrapassou em muito o limite do aceitável” e
que suas falas merecem “desaprovação”.
“A provocação, as insinuações
sexistas apresentadas pelo presidente devem merecer a nossa desaprovação. Isso
está se tornando uma rotina”, protestou Vital do Rêgo.
Para Eliziane Gama
(Cidadania-MA), Bolsonaro “agrediu de forma frontal todas as mulheres
brasileiras” e demonstrou falta de compostura. A parlamentar leu trecho de nota
divulgada pelo partido que representa.
“As declarações do presidente
confrontam ‘a luta histórica e a conquista de direitos pelas mulheres,
afirmando posturas sexistas e misóginas, não mais toleráveis em nossa
democracia’”, disse Eliziane.
Kátia Abreu (PDT-TO) disse
que, como não é possível atacar a competência das mulheres, as pessoas tentam
atacar a dignidade.
“Por que não pode falar que
mulher é bandida, que mulher é ladra, que mulher é incompetente? Porque
normalmente não são. E o que anda sobrando para falar das mulheres? É da sua
vida sexual, é da sua vida amorosa, é da sua dignidade, da sua honra. Isso é
coisa de país sub, sub, subdesenvolvido”, afirmou a pedetista. "Eu não conheço
a jornalista Patrícia Campos Mello. Eu conheço a fama da sua competência. Mas,
mesmo que ela não fosse competente, ela não merecia passar pelo que está
passando”, acrescentou Kátia Abreu.
Nas redes sociais, outros
senadores fizeram publicações a respeito do assunto. “Qual o limite do absurdo?
Em que democracia sã um presidente da república se sente à vontade agredindo,
assediando mulheres? O Brasil nunca esteve diante de tanta covardia! As
instituições não podem se calar! Toda minha solidariedade à Patrícia Campos
Mello”, publicou Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
“No exercício do cargo de
presidente da República, um machista que agride covardemente uma mulher,
repórter e, tentando desqualificá-la, ataca brutalmente a liberdade de
imprensa. São tantos crimes de responsabilidade que é inacreditável como
Bolsonaro não tenha perdido o cargo”, postou Humberto Costa (PT-PE).
“Toda a nossa solidariedade à
jornalista Patrícia Campos Mello, da ‘Folha’, covardemente agredida pelo
presidente Jair Bolsonaro. A Presidência da República deveria semear o respeito
entre as instituições e trabalhar para fortalecê-las. Lamentável que o
presidente siga na direção oposta”, afirmou Weverton Rocha (PDT-MA).
Câmara
Pelo menos 23 parlamentares
mulheres tinham assinado, até as 21h desta quarta-feira, uma nota de repúdio à
fala do presidente.
O texto afirma que a
declaração é "absolutamente desrespeitosa e incompatível com a postura de
um Presidente da República" e diz que "esse tipo de discurso não
ataca só a jornalista Patrícia, mas todas as mulheres que cotidianamente são
vítimas de violência, seja dentro de casa, no transporte público e no próprio
ambiente de trabalho."
As deputadas leram a nota na
sessão plenária da noite de ontem, 18, em ato de desagravo.
"Todo o repúdio a essa atitude
repugnante do presidente Bolsonaro", afirmou a deputada Natália Bonavides
(PT-RN), que começou a coletar as assinaturas para a nota.
A bancada do PSOL na Câmara
entrou com representação na Comissão de Ética Pública com pedido de apuração de
violação da conduta da alta administração federal pelo presidente.
Para os deputados do partido,
“os ataques aos jornalistas empreendidos pelo Presidente são incompatíveis com
os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de
informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas
aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são
incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente”.
A presidente nacional do PT,
deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a situação é "lamentável"
e que ela desconhece algum presidente que tenha feito uma "agressão tão
grande" a uma mulher como fez Bolsonaro.
"Essa manifestação em
relação à Patrícia passa de todos os limites. Muito vexatório para um
presidente da República. Muita desconsideração, é muito desrespeito com a
mulher", declarou.
Em uma rede social, a deputada
Tabata Amaral (PDT-SP) disse ser "inconcebível" que o direito das
mulheres de não serem "sexualizadas e assediadas" tenha que ser
"reforçado e relembrado diariamente".
Tabata afirmou ainda que a
fala de Bolsonaro não ataca somente a jornalista da "Folha", mas,
sim, "todas as mulheres que cotidianamente são vítimas de violência, seja
dentro de casa, no transporte público e no próprio ambiente de trabalho".
Também crítica à fala de
Bolsonaro, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) disse que o presidente quebrou
o decoro ao falar sobre a jornalista.
"Temos um presidente
machista. Querer desqualificar uma profissional, com insinuações sexuais é uma
forma clássica da misoginia. E as mulheres sabem disso. Isso é quebra de
decoro. Repugnante! Nojento", publicou a deputada em uma rede social.
Aliados na Defesa
Durante a sessão da Câmara, na
terça-feira, ao menos dois deputados e um dos filhos do presidente, Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP), acompanhado de cinco deputadas, saíram em defesa do
presidente.
(foto/reprodução Estadão) |
O deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP) subiu ao púlpito acompanhado de cinco deputadas mulheres da ala
governista para dizer que o grupo que critica a declaração de seu pai não fala
em nome das mulheres.
"A deputada diz que fala
em nome de todas as mulheres. Calma aí. Será que não tem mulher aqui comigo
não? Uma banana em nome de todas as mulheres, tá?", afirmou, fazendo um
gesto ofensivo. "Isso aqui é a imposição do politicamente correto para
tentar calar a boca do presidente Jair Bolsonaro."
Otoni de Paula (PSC-RJ) disse
que "a esquerda e a imprensa extremista" acusaram o presidente
"atacar mulheres". Mas, na opinião dele, Bolsonaro se referiu à
jornalista "sem esboçar nenhum deboche e nenhuma falta de respeito".
Bibo Nunes (PSL-RS) disse que
quem entendeu que Bolsonaro atacou a jornalista "está com certa maldade
nos seus pensamentos".
"O presidente Bolsonaro
não falou nada demais. Simplesmente, todo jornalista quer um furo, ou seja, uma
notícia em primeiríssima mão. Então, não há nada de errado. Quando se fala em
Bolsonaro, só vêm críticas, críticas em cima de críticas", afirmou.
No início da tarde, ao deixar
o Palácio da Alvorada após uma reunião com ministros, Bolsonaro voltou a tocar
no assunto, mas ressalvou que não queria "conversa".
"Alguém da 'Folha de
S.Paulo' aí? Eu agredi sexualmente uma repórter hoje? Parabéns à mídia, aí. Não
quero conversa. Parabéns à mídia. Eu agredi, cometi uma violência sexual contra
uma repórter hoje?"
Veja as reportagens do através
dos links https://globoplay.globo.com/v/8333911/ e https://g1.globo.com/globonews/jornal-globonews-edicao-das-18/video/entidades-de-jornalismo-reagem-as-insinuacoes-de-bolsonaro-contra-uma-reporter-8333320.ghtml.
Fonte:
Portal G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Prezados (as), reservo-me ao direito de moderar todos os comentários. Assim, os que me chegarem de forma anônima poderão não ser publicados e, desta forma, tão menos respondidos. Grato pela compreensão, espero contribuir, de alguma forma, com as postagens neste espaço.