Produto nanotecnológico reúne manejo hídrico e de fertilizantes. (foto: Malu Tinoco) |
Produto pode ser aplicado em
culturas anuais e sazonais nas lavouras de pequeno ou grande porte
Pesquisadores desenvolveram
um novo fertilizante à base de hidrogel modificado, capaz de reunir em um único
produto água e nutrientes e fazer a liberação de forma gradual. Seu uso
racionaliza o emprego dos nutrientes, que são disponibilizados às plantas
paulatinamente, ação obtida por meio de nanotecnologia. Desse modo, o produto
reduz as perdas geradas por carreamento, que provocam impactos ambientais e
financeiros. Além disso, a tecnologia é um modo de aumentar os intervalos de
irrigação, uma vez que a água também é liberada aos poucos pelo produto,
promovendo manejo hídrico mais eficiente e reduzindo custos.
Outra
vantagem para o agricultor é que o custo de produção é cerca de 50% menor
comparado aos produtos convencionais que, em média, custam em torno de R$ 45,00
o quilo, são exclusivos para a retenção hídrica e não fazem a liberação controlada
dos nutrientes.
divulgação Embrapa (foto: Malu Tinoco) |
Nomeado
de Fertgel, o produto pode ser aplicado em culturas anuais e sazonais de
lavouras de pequeno ou grande porte, com formulações próprias para cada
cultura. A aplicação no solo pode ser em pó ou em formato de gel. A proposta é
atender também grandes cadeias produtivas, como soja, milho e laranja, entre
outras. Os ensaios preliminares mostraram o potencial de produção em larga
escala, de forma sustentável e economicamente competitiva.
O
desenvolvimento realizado no Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o
Agronegócio (LNNA),
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Instrumentação (Embrapa Instrumentação
– SP), gerou uma spin
off (derivada), a empresa Fertgel.
Para desenvolver a solução,
os pesquisadores usaram nanotecnologia para adicionar modificantes no material.
Com a incorporação de um argilomineral, foi possível aumentar a capacidade de
armazenar água, carregar os nutrientes e liberá-los de maneira gradativa.
Modificantes contidos na fórmula são os responsáveis pela liberação controlada
e pela redução do custo de produção. “A formulação diferenciada do hidrogel
abre uma nova fronteira no mercado de fertilizantes”, afirma o chefe-adjunto de
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Instrumentação, José Manoel Marconcini.
A atual fase da pesquisa de
escalonamento da síntese dos materiais conta com apoio do programa de Pesquisa
Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do projeto “Produção
de hidrogéis para aplicações agrícolas”, coordenado pelo proprietário
da empresa Fertgel, o químico Adriel Bortolin.
Nessa etapa, pretende-se
avaliar a qualidade do material sintetizado em quantidades diferentes em um
projeto-piloto em planta industrial. Bortolin disse que também quer identificar
possíveis fornecedores, nacionais e internacionais, de matéria-prima para a produção
dos hidrogéis nanocompositos.
Poder de Retenção
“Atualmente o uso de hidrogel
na agricultura está apenas relacionado ao fornecimento de água em períodos de
seca, com a finalidade de aumentar o intervalo de irrigação. Por isso,
espera-se que o hidrogel tenha um alto grau de intumescimento, que é a
capacidade de o material absorver água”, diz Bortolin.
Em ensaios preliminares, o
hidrogel elaborado com a técnica alternativa de produção demonstrou absorver
até mil vezes o seu peso em água. Segundo ele, os hidrogéis convencionais são
capazes de intumescer entre 200 e 400 vezes o próprio peso em água.
"Basicamente, são formulações copoliméricas que fazem com que o hidrogel
perca a água armazenada para o solo de maneira bastante rápida e apresente uma
baixa interação com nutrientes", explica.
Versatilidade
De acordo com o pesquisador,
com a nova metodologia de tratamento de hidrólise foi possível obter duas
granulometrias diferentes de hidrogéis. "Esses materiais podem ser
aplicados em setores agrícolas distintos: produção de mudas, aditivo de substratos,
hortaliças, bem como em larga escala para a produção de citros, eucalipto e
cana-de-açúcar, por exemplo”, revela.
divulgação Embrapa (foto: Malu Tinoco) |
Após definir as etapas de
síntese, o projeto pretende calcular o custo de produção do material final,
considerando os processos de secagem e moagem, além dos custos da matéria-prima
importada e da comercialização no Brasil. Esses cálculos vão apoiar os estudos
de viabilidade do produto.
As formulações que se
destacarem nessas etapas de caracterização serão testadas em casas de
vegetação. A proposta é desenvolver hidrogéis incorporados a nutrientes
específicos para cada tipo de cultura-teste. Os ensaios em campo vão
compreender cadeias produtivas importantes para o país, como milho, café,
citros e cana-de-açúcar.
“Tivemos que buscar um
caminho muito diferente para tornar a tecnologia disponível, que envolvia
encontrar uma empresa do ramo químico, mas muitas sem experiência na área agro,
para iniciar o processo de produção”, conta o pesquisador da Embrapa Caue Ribeiro.
“Nossa expectativa hoje é que a empresa nascente possa se consolidar no mercado
agro, com a possibilidade de explorar, no futuro, outras aplicações do hidrogel
nanocomposito, principalmente no mercado de saúde (health care), onde está hoje o maior consumo
de produtos similares”, revela o pesquisador.
"Sistemas de liberação
devem ser baseados em materiais biodegradáveis, facilmente incorporáveis ao
solo e, preferencialmente, capazes de carregar quantidades elevadas da fonte do
nutriente de interesse, no intuito de minimizar custos", defende
Marconcini.
Mas Bortolin alerta para o
fato de o hidrogel carregado com nutriente não substituir totalmente a
fertilização convencional. "Há indícios de que o uso de hidrogel
carregado, concomitantemente com a fertilização, otimiza a ação dos macro e
micronutrientes, o que pode resultar em lucro para o produtor", esclarece.
Nasce Uma Empresa
O novo fertilizante
desenvolvido no LNNA envolve esforços de uma equipe multidisciplinar, empenhada
há mais de uma década em diversos estudos que resultassem em um material capaz
de absorver mais água, carregar, reter e liberar, de forma controlada, macro e
micronutrientes.
Com a dificuldade de
encontrar uma instituição que reunisse todas as competências em conhecimento
químico, de materiais e de aplicação no agro, a solução foi criar uma empresa
nascente.
divulgação Embrapa (foto: Malu Tinoco) |
Assim nasceu a spin off Fertgel, com foco
na finalização e exploração do produto, que recebeu o mesmo nome da empresa. À
frente do empreendimento está Bortolin, que já havia abordado a aplicação de
hidrogéis para uso agrícola na dissertação de mestrado. Naquela etapa, foram
realizados ensaios em pimentão e tomate em parceria com a Embrapa Hortaliças (DF), com resultados
promissores.
No doutorado, realizado no
programa do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Bortolin avançou na pesquisa
iniciada em 2006 por Fauze Ahmad Aouada, atualmente professor da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp),
campus Ilha Solteira (SP), nas ações da Rede de Nanotecnologia Aplicada ao
Agronegócio (Rede AgroNano)
e do Programa Embrapa Labex.
Bortolin foi acompanhado por
especialistas no desenvolvimento de novos materiais, como o pesquisador Luiz Henrique Capparelli Mattoso,
responsável pela introdução do tema na Embrapa Instrumentação, além dos
cientistas Marconcini e Caue Ribeiro, da
mesma unidade de pesquisa.
Apresentação
O novo produto será
apresentado na 4ª edição da Nano Trade Show,
de 25 a 27 de setembro, em São Paulo. A empresa Fertgel, mesmo nome da
tecnologia, busca investidores para promover a entrada do produto no mercado
até o próximo ano.
Mais informações sobre o tema podem ser obtidas
através do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) que
está à disposição no sítio da Embrapa na internet: www.embrapa.br/fale-conosco/sac/.
Fonte: Embrapa Instrumentação
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