Abelhas são polinizadores importantes pelo grande número de
espécies existentes. Uso
de agrotóxicos no Brasil aumentou 700% de 1990 a 2016.
Cerca
de meio bilhão de abelhas morreram em quatro estados brasileiros nos primeiros
meses de 2019, segundo estimativas de associações de apicultura, secretarias de
agricultura e pesquisas de universidades, sendo que os dados foram reunidos
pela Agência
Pública e Repórter Brasil. A morte massiva é um sintoma de que
alguma coisa vai muito mal nessas regiões.
A maioria dessas mortes foi
registrada no Rio Grande do Sul (400 milhões), seguida por Santa Catarina (50
milhões), Mato Grosso do Sul (45 milhões) e São Paulo (sete milhões). O Rio
Grande do Sul é o maior produtor apícola do país, com produção de mais de seis
mil toneladas por safra, o que representa 15% do total produzido no Brasil.
O apicultor Aldo Machado contou ao Bloomberg que
a morte foi rápida em suas colmeias de Apis mellifera. Menos de 48 horas depois dos primeiros sinais de
intoxicação, milhares estavam caídas ao chão, formando montes de corpos.
“Assim
que as abelhas saudáveis começaram a retirar as abelhas que estavam morrendo
das colmeias, elas se contaminaram. Começaram a morrer em massa”, diz Machado,
que também é vice-presidente da associação de apicultores do Rio Grande do Sul.
Isso representa uma
tragédia para os produtores de mel e para o meio ambiente da região. A onda de
mortes registradas no Brasil entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019
representou um prejuízo de 150 toneladas de mel.
O engenheiro agrônomo e
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aroni Sattler, é
especialista em abelhas e realiza pesquisas sobre a morte delas desde 1973. Ele
afirmou à Agência Pública que nos últimos dez anos tem aumentado drasticamente
a morte de abelhas sem sinal de doenças. Essa morte em massa levanta sinais de
alerta em relação aos pesticidas usados na agricultura do Brasil.
A maioria das
abelhas mortas apresentou resquícios de Fipronil, um inseticida banido na União
Europeia há mais de 10 anos e classificado pela Agência de Proteção Ambiental
dos Estados Unidos como um possível carcinogênico humano. Como é inseticida,
ele também mata as abelhas.
Uma pesquisa de 2018
realizada pelo laboratório privado Bioensaios mostrou que 80% das abelhas que
morreram no Rio Grande do Sul tiveram contato com o Fipronil antes de morrer.
Relaxamento do
Uso de Pesticidas
O uso de agrotóxicos no
Brasil aumentou 700% de 1990 a 2016, de acordo com a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
O último relatório da
Anvisa mostrou que 20% as amostras continham excesso de pesticidas, acima dos
níveis permitidos, ou que continham pesticidas ilegais.
Os agrotóxicos abrangem uma
área muito maior do que a da lavoura – atingem um raio de 3 a 5 quilômetros
além da plantação, afetando também os eventuais vizinhos apicultores e as
abelhas silvestres que vivem nas matas.
O
que Fazer
Machado
defende o acompanhamento de agrônomos nos campos para que orientarem as
aplicações segundo as bulas. Ele também incentiva que os apicultores não tenham
medo de denunciar aplicações ilegais aos órgãos estaduais como secretarias do
meio ambiente ou de agricultura.
Em 2013, um projeto do
estado de São Paulo patrocinado pelas próprias produtoras de agrotóxicos, o
Colmeia Viva, lançou um telefone 0800 para que os apicultores denunciassem a
morte de suas colmeias. O projeto faz uma análise da morte das abelhas e
entrega um laudo para o criador, que pode utilizá-lo para entrar com ação na
justiça contra quem usa agrotóxicos de forma ilegal.
Poucos Dados
No Brasil, não há números
oficiais de morte de abelhas, mas as associações de apicultores e secretarias
estaduais de agricultura fazem suas próprias estimativas, que são abaixo do
real número de mortes desses polinizadores. Isso porque os apicultores relatam
as mortes apenas das abelhas de suas colmeias, portanto não entram nessa conta
as abelhas silvestres que morrem nas matas.
Relatório
da Polinização
Segundo
o 1º
Relatório Temático de Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no
Brasil, publicado em fevereiro de 2019, 76% das plantas produtoras de
alimentos no Brasil são dependentes da polinização feita por animais. Entre
esses animais estão pássaros, morcegos, borboletas e outros insetos, mas as
abelhas se destacam pelo enorme número de espécies existentes.
Os polinizadores aumentam a
qualidade e quantidade de alimentos como soja, café, feijão e laranja. O
relatório estima que este serviço ambiental represente para os agricultores uma
ajuda que equivale a R$43 bilhões por ano. “A soja é o produto que mais tem
valor na nossa balança comercial”, diz a pesquisadora Kayana Agostini à Gazeta do Povo.
Agostini, que é professora
da Universidade Federal de São Carlos, explica que algumas culturas são
totalmente dependentes de polinizadores, como o maracujá, que precisa da abelha
mamangava para fazer a troca de pólen necessária para a produção do fruto.
O
relatório foi criado em parceria da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador;
Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos; e a
Plataforma Brasileira de Biodiversidade; com apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo.
A morte de abelhas no mundo
tem ganhado destaque desde 2006, quando surgiram os primeiros destaques de
Distúrbio do Colapso das Colônias (DCC), registrados nos EUA e Europa. No DCC,
apicultores encontram em suas colmeias apenas rainha, abelhas imaturas e um
punhado de abelhas adultas que cuidam das pupas. O resto da colônia desaparece.
No Brasil não há registros
oficiais de DCC, mas é importante que apicultores relatem qualquer atividade
incomum para que os dados sejam registrados.
Fonte: HypeScience/Science Alert/Colmeia Viva
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