Variedade apresenta teores
de proteínas e minerais, como cobre, manganês, ferro e zinco, superiores aos do
milho tradicional
Uma nova cultivar de milho
branco apresenta características que a tornam alternativa ao trigo para
produção de farinha. O milho BRS 015 Farináceo Branco ainda tem potencial para
panificação com foco em públicos com restrição de consumo de glúten, uma vez que
grãos de milho não contêm essa substância. O novo cereal será lançado pela Embrapa Clima Temperado
(RS) na próxima quinta-feira, 29, durante a Expointer, em Esteio (RS).
Por
sua composição, a variedade apresenta farinha de menor granulometria, ou seja,
mais fina do que as obtidas a partir de variedades tradicionais de milho. O
melhor desempenho na moagem em comparação a essas variedades também pode
resultar em rendimento de extração de amido de 40%, o que ajuda a dar estrutura
e deixar as massas mais macias. Esse teor ajuda a compensar a ausência do
glúten, responsável por dar estrutura e deixar as massas mais macias.
Outro
destaque é a cor do grão que, mesmo integral, gera uma farinha branca. Isso,
somado à baixa granulometria, resulta em pães e biscoitos similares aos obtidos
a partir do trigo. “Quando fazemos um pão com a farinha de milho branco, ele
fica com aspecto mais bonito e a massa mais coesa. Não fica esfarelando.
Geralmente, o milho amarelo não dá uma característica boa para a coesividade do
pão", explica a pesquisadora do Núcleo de Alimentos da Embrapa Clima
Temperado Ana Cristina Krolow.
Comparações
com uma variedade de milho comercial realizadas na Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ),
onde o cereal foi transformado em fubá e farinha, indicam, de fato, que o novo
milho farináceo é mais mole, mais facilmente triturado e que, portanto, produz
mais farinha, sendo menos arenoso em textura. Segundo avaliação do pesquisador
Rogério Germani, a indicação é para agregação a pães, biscoitos e bolos, mas
não para produção de salgadinhos (snacks), que exigem material mais grosso.
Além disso, o material tem mais facilidade de cocção, com gel mais viscoso após
o resfriamento.
Atualmente, a farinha de
trigo é a mais empregada em panificação no Brasil. De acordo com a Associação
Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a produção nacional de
farinha no país, em 2018, foi de 9,1 mil toneladas e o consumo médio por pessoa
de 45,6 kg. Mas a presença de glúten inviabiliza o consumo pelos cerca de dois
milhões de brasileiros afetados pela doença celíaca, segundo dados da Federação
Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra).
Por
isso, os pesquisadores enxergam no novo material uma oportunidade de mercado.
"O nosso objetivo é disponibilizar o material para agricultores familiares
e entrar em nichos de mercado, principalmente para celíacos ou pessoas que
fazem dieta com menos glúten", declara um dos pesquisadores responsáveis
pela cultivar, Éberson Eicholz.
Maiores Teores de Minerais
Análises
físico-químicas do grão, que indicam sua composição, também foram realizadas
nos laboratórios da Embrapa, onde foram avaliados os teores de umidade, fibras,
gordura, proteínas e minerais. Segundo Ana Cristina, a variedade apresentou
teores de proteínas e minerais, como cobre, manganês, ferro e zinco, superiores
aos do milho tradicional.
Uma
fatia de 100g de pão feito de farinha obtida a partir da variedade corresponde
a 31% das necessidades de ingestão de ferro segundo a tabela de Ingestão Diária
Recomendada para adultos (IDR) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Isso é um bom
resultado para esse milho, haja vista que outros milhos amarelos não têm uma
concentração tão elevada de ferro", afirma.
Os
resultados ainda indicam que 100g desse grão correspondem a 2,8% das
necessidades de ingestão de cálcio, 106% de magnésio, 12% de fósforo, 41% de
manganês e 22% de cobre. E que seus teores de proteínas, gordura e fibra bruta
correspondem a 12%, 8% e 11% das necessidades diárias recomendadas para adultos
saudáveis, respectivamente.
A sugestão é que, a partir
dos grãos da BRS 015FB, seja produzida farinha integral, de maneira que ela
incorpore os óleos naturais do milho – gorduras consideradas boas e
responsáveis pelo bom funcionamento do organismo.
Valorização x Produção Menor
O
milho BRS 015 Farináceo Branco padroniza uma variedade crioula cultivada e
mantida pelos agricultores familiares da região Sul do Rio Grande do Sul. São
plantas de porte baixo, com pouco mais de dois metros de altura, o que facilita
a colheita e o manejo. A produção média é de cinco mil quilos por hectare, com
uma espiga por planta. "Acaba sendo mais eficiente porque tem uma maior
produção direcionada à espiga", explica Eicholz.
Apesar
de ter porte menor e produzir menos do que as variedades tradicionais de milho,
o BRS 015 Farináceo Branco tem como diferencial o apelo a um nicho, o que tende
a aumentar o seu valor de mercado. A intenção da Cooperativa União, de Canguçu
(RS), uma das licenciadas para a produção de sementes, é comercializar as sementes
e a farinha 30% mais caras do que as demais.
“Pretendemos
agregar valor na produção dos agricultores, trazendo o milho, industrializando
e levando ao nosso consumidor um produto diferenciado. Além da farinha,
pretendemos incentivar a produção de sementes, comercializando a um valor
superior ao das demais sementes crioulas que a gente já produzia", revela
o presidente da entidade, Fabris Prestes.
De
acordo com o pesquisador da Embrapa, Sérgio dos Anjos, que deu início ao
trabalho de melhoramento desse material no fim da década de 1990, o enfoque foi
justamente esse. "Quando comparado [a outros cereais], o milho farináceo
não tem alta produtividade. Mas o que se dá ênfase é nos produtos especiais
para os quais são destinados, como farinha sem glúten, milho-verde e,
inclusive, massa sem glúten, que era uma das propostas do nosso trabalho à
época", conta.
Dado
seu apelo a um público preocupado com questões ligadas à saúde, a variedade
também é indicada à produção orgânica. “Ela tem sido avaliada na produção orgânica
há alguns anos e apresentado uma boa produtividade. O interessante é agregar
valor à farinha pela introdução no sistema orgânico", completa Eicholz.
Agronomicamente,
o ciclo até o chamado pendoamento, quando as primeiras espigas aparecem, é
precoce. Gira em torno de 70 dias. A partir daí, são mais 50 para enchimento
dos grãos. No total, são 120 dias para a maturação completa após o plantio,
quando ocorre a colheita. Além disso, a cultivar é de polinização aberta
(varietal), permitindo o replantio nas próximas safras sem a necessidade de
compra de novas sementes. Isso reduz custos e dá mais independência aos
agricultores.
A
qualidade do grão também torna a variedade apta para produção de milho-verde.
Dessa forma, em que o milho é colhido e preparado antes da maturação, os grãos
apresentam sabor mais adocicado. No Rio Grande do Sul, para onde a cultivar é
adaptada e recomendada, o plantio ocorre de setembro a dezembro, e a colheita
de janeiro a abril.
Aquisição de Sementes
A
variedade tem como público-alvo, principalmente, os agricultores familiares e as
pequenas agroindústrias, podendo ser utilizada em sistemas de produção
orgânica. A expectativa é que o material esteja à disposição dos produtores
para a safra 2019/2020. Interessados em obter sementes devem fazer contato com
os multiplicadores licenciados: Cooperativa União dos Agricultores Familiares
de Canguçu/RS e Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida (Coonaterra).
Cooperativa
União dos Agricultores Familiares de Canguçu/RS
Av.
Exército Nacional, 225
Canguçu/RS – CEP 96600-000
(53) 3252.2506
Cooperativa
Agroecológica Nacional Terra e Vida (Coonaterra)/Bionatur
Assentamento
Roça Nova, s/n, Interior
Caixa Postal nº. 14
Candiota/RS – CEP 96495-000
(53) 99919.4150
A História do Milho do Sul
Segundo
explica o pesquisador da Embrapa, Sérgio dos Anjos, o resgate desse tipo de
material teve início em 1976, a partir de um projeto financiado pelos Estados
Unidos – o Latin American Maize Project
(LAMP). Essa pesquisa tinha por objetivo a conservação da variabilidade
existente de milho, a oferta de sementes de milho farináceo branco à
agricultura familiar e a recuperação e criação de moinhos em áreas rurais.
O
milho BRS 015 Farináceo Branco é originário de material crioulo coletado na
década de 1990 em São José do Norte (RS), inicialmente introduzido no Brasil
pelos colonos açorianos que se instalaram no litoral Sul do país nos séculos 18
e 19. As condições ambientais da região, de ventos fortes e ausência de
barreiras físicas, e os solos rasos e arenosos, condicionaram o processo de
seleção natural. Isso resultou em plantas baixas, sadias, com altura de
inserção de espigas baixa e bom sistema radicular.
A
obtenção da cultivar se deu a partir de seleção de plantas da população
original, denominada “Brancos Açorianos.” Posteriormente, entre 2003 e 2008,
pesquisadores da Embrapa Clima Temperado selecionaram mais de 100 progênies
(descendentes) que, combinados, deram origem ao BRS 015.
"Em
relação ao farináceo branco, a gente identificava alguns defeitos. O principal
é que, na espiga dele, havia grãos que tinham manchas amareladas. Por causa
disso, a nossa seleção foi para tirar aquela frequência de milhos com esse
defeito", explica o cientista da Embrapa. No total, o trabalho levou em
torno de 10 anos, desde a coleta à seleção.
Mais informações sobre o tema
podem ser obtidas através do Serviço de
Atendimento ao Cidadão (SAC) por meio do link www.embrapa.br/fale-conosco/sac/.
Fotos: Paulo Lanzetta/Arquivo Embrapa Clima Temperado
Fonte: Embrapa Clima Temperado
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