Mesmo as menores doses de agrotóxicos usados no Brasil podem levar à
morte e deformidades físicas
Nova pesquisa
revelou que 10 agrotóxicos utilizados no
Brasil podem ter efeitos nocivos à saúde ainda que estejam nas doses
"seguras" (ou até três vezes menores), recomendadas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Ministério da Saúde e indicadas nas próprias bulas dos produtos.
A situação é
alarmante, de acordo com a autora do estudo, a bióloga Mônica Lopes-Ferreira,
doutora em imunologia e especialista em bioquímica e farmacologia, do Centro de
Toxinas Resposta Imune e Sinalização Celular (CETICs).
Agrotóxicos no Brasil
A pesquisa,
iniciada no final do ano passado e finalizada neste ano, é uma parceria do
Ministério da Saúde com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nela, os agrotóxicos foram testados nas mais diversas doses,
desde as menores concentrações até valores maiores, que proibidos.
São eles:
ü Abamectina
ü Acefato
ü Alfacipermetrina
ü Bendiocar
ü Carbofurano
ü Diazinon
ü Etofenprox
ü Glifosato
ü Malathion
ü Piriproxifemo
Dentre eles, os
piores foram o glicosato, o malathion, piriproxifemo, porque seus efeitos
nocivos já foram observados dentro de apenas 24 horas e levaram à morte.
O glifosato é um dos
agrotóxicos mais comuns no mundo e um dos mais utilizados no Brasil. Ainda há
controvérsias sobre a liberação do uso e dos seus efeitos no ser humano e no
meio ambiente. Mas ele já foi considerado com alto potencial cancerígeno pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e proibido na União
Europeia (UE).
Entretanto, além
dele, mais de 290 tipos já foram liberados só em 2019 no Brasil, sendo 41%
deles de extrema ou alta toxicidade e 32% já proibidos na UE. São mais de 500
agrotóxicos permitidos no país, e de acordo com a Empresa Brasileira de
Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), o
consumo atual ultrapassa cerca de 130 mil toneladas.
Perigos dos Agrotóxicos
Os testes foram
realizados por meio da Plataforma Zebrafish, uma metodologia científica
internacional que testa toxinas nos peixes-zebra (conhecidos como Paulistinha
por aqui), animais que são 70% geneticamente similares ao ser humano.
Trazida ao
Brasil com apoio da Fapesp, o método é confiável e facilita
o trabalho por três motivos, de acordo com a bióloga.
Primeiro porque
o peixe se desenvolve muito rápido, então é possível analisar os efeitos das
toxinas em menos tempo. Segundo porque ele é transparente, então é possível
realizar uma observação do que está acontecendo dentro do animal ao vivo. E o
fato dele ser muito semelhante ao humano sugere fortemente a possibilidade de
que o mesmo aconteça conosco.
As análises
avaliaram diferentes concentrações dos agrotóxicos com ovas de 20 embriões, em
intervalos de 24, 48, 72 e 96 horas, para verificar a taxa de mortalidade, as
anomalias, malformações, efeitos colaterais, e em qual fase da vida elas
poderiam acontecer.
"A gente
observou que alguns peixes morreram, outros não desenvolveram uma nadadeira, um
olho, ficaram com edema cardíaco, problema na coluna, ausência de coloração,
por exemplo", explicou a pesquisadora Mônica.
Segundo a
especialista, o intuito da pesquisa não é ocasionar a proibição geral dos
agrotóxicos. "Não sou contra a agricultura, nem o agronegócio nem aos
agrotóxicos. Sou filha de um agricultor. Mas acho que nós temos que ter cuidado
no manejo, na dose, usar mais pesticidas biológicos".
Os relatórios do
estudo já estão em posse da Fiocruz e do Ministério da Saúde, responsáveis pela
publicação oficial da pesquisa no meio científico, mas ainda não foram
publicados.
Mas "diante
dos resultados, poderia se buscar doses menores, realizar mais testes, em uma
ação conjunta para descobrir a dose que mata a praga, mas que não causa dano à
saúde", indica Mônica.
Nos Alimentos e Na Água
Encontrado nos alimentos (frutas,
verduras, legumes) e também na água, o que mais preocupa nos agrotóxicos é seu
efeito cumulativo, de acordo com Mônica.
"Hoje eu me
alimento com o alface que eu não sabia que tinha agrotóxico. Mas se todo dia eu
comer, beber ou entrar em contato com ele, os efeitos disso com o passar do
tempo para mim e para meus descendentes são somatórios e podem ser
graves".
Como se Proteger
Fonte: Portal Minha Vida
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