sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Filho confessa homicídio após dizer que mãe morreu tentando defendê-lo

Em seu depoimento, a evidência de motivo torpe para o crime. A mãe era dominadora, obrigava-o a trabalhar e a estudar
São Paulo, SP – O estudante de direito Kleber Tadeu Galasso Gomes, 22 anos, confessou ontem, 16, que esfaqueou a mãe, a empresária e jogadora de vôlei Magda Aparecida Galasso Gomes [foto], 53 anos, até a morte dentro do apartamento em que moravam no
bairro Perdizes, em São Paulo. O crime ocorreu no último sábado, 11. A Justiça já decretou a prisão temporária do matricida.
Conforme o delegado Maurício Guimarães, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em seu primeiro depoimento Kleber afirmou que havia sido rendido e levado até seu apartamento por um criminoso que esfaqueou sua mãe após ela reagir ao assalto para lhe defender.
1ª Versão
Na história contada logo após o crime, Kleber relatou que teria sido abordado por um bandido armado na rua que lhe roubou R$ 400. Segundo o estudante, o criminoso queria cartões de crédito e obrigou Kleber a levá-lo até o apartamento. Ao chegarem, o ladrão teria roubado dinheiro e outros objetos. Conforme Kleber, a mãe teria reagido ao assalto e acabou esfaqueada.
Confissão
De acordo com o delegado, as investigações apontaram contradições no relato de Kleber, o que o fez confessar o crime. “Hoje ele (Kleber) disse ‘não aguento mais, vou contar a verdade’. Depois, relatou que foi comprar entorpecentes e que contou a um sujeito que estava ali que não suportava mais a mãe. A convite de Kleber – e mediante pagamento de R$ 400 –, o rapaz topou ir ao apartamento para dar um susto na mãe”, disse Guimarães.
Segundo o depoimento de Kleber, a discussão teria ficado acirrada e o rapaz teria dado diversas facadas em Magda. Logo após, o estudante teria pegado a faca e terminado de esfaquear a mãe. “Mas nós achamos que ele esfaqueou a mãe sozinho. A história ainda está mal contada”, disse o delegado. “O fato é que houve um homicídio (matricídio) praticado pelo próprio filho, só não sabemos ainda se ele foi autor ou coautor”, afirmou.
Depoimento
Ao ser questionado pelos investigadores sobre as várias contradições, o estudante acabou confessando o assassinato, mas, mais uma vez, apresentou uma versão “bastante inverossímil”, segundo Guimarães. O estudante relatou ontem, 16, que tinha conhecido o outro rapaz naquele dia, na Barra Funda, onde tinha ido comprar drogas, e que tinha desabafado com ele, pois estava tendo problemas de relacionamento com a mãe. O rapaz, então, o convenceu a levá-lo para o apartamento da mãe, para dar um susto nela, segundo o delegado.
Já no apartamento, por volta das 12h50 do dia 11, a mãe, surpreendida pela dupla, o questionou pela presença do desconhecido dentro de casa. Em seguida, o rapaz desferiu uma facada no pescoço da jogadora de vôlei, contou o estudante à polícia. As demais facadas foram dadas pelo próprio filho, na sequência, com a mesma faca, conforme confissão.
O rapaz, que é filho único, disse à polícia que a mãe era dominadora, obrigava-o a trabalhar e a estudar. Na manhã do sábado, 11, eles tiveram uma briga porque a mãe o tirou logo cedo da cama para que a ajudasse na arrumação do apartamento para onde tinham se mudado há poucos dias.
O estudante fez a confissão em depoimento na frente do próprio tio, Marco Antônio Galasso, irmão da vítima. Ele disse que vinha sendo pressionado pela mãe, com quem tinha problemas de relacionamento. Apesar disso, as investigações prosseguirão com o objetivo de tentar identificar o segundo rapaz que, no dia do crime, subiu com o estudante para o apartamento.
“Hoje, no interrogatório, ele confessou parcialmente. Mas várias contradições foram percebidas desde o primeiro depoimento dele”, disse o delegado.
Contradições
Dentre as contradições, o estudante afirmou que levou um carroceiro, como os que recolhem materiais descartáveis, que conheceu na rua para o apartamento. Testemunhas, no entanto, disseram que o rapaz estava bem vestido e asseado. Além disso, a descrição feita pelo estudante para a elaboração de um retrato falado não é condizente com a descrição feita pelas testemunhas que presenciaram a entrada e saída da dupla do prédio. O resultado foi retratos falados de suspeitos completamente distintos. Apenas a versão feita pelas testemunhas está sendo divulgada pela polícia.
Durante o interrogatório desta quinta-feira, 16, Kleber chegou a apresentar uma terceira versão para o crime, antes de fazer a confissão. “Ele começou a dizer que tinha sido abordado por dois homens em uma loja de materiais para construção na marginal (Tietê). Eu falei então: ‘Chega! Vamos contar a verdade?’ Aí, ele tentou essa segunda versão. E cada vez que tentava consertar, diante dos questionamentos, só piorava a situação. Até que ele confessou, mas ainda há pontos que não batem”, afirmou Luís Fernando Lopes Teixeira, da delegacia de chacinas do DHPP.
Crueldade e Investigação
O laudo necroscópico do corpo da vítima ainda não ficou pronto, mas, segundo Teixeira, foram ao menos 17 facadas.
Segundo a polícia, testemunhas relataram que o estudante desceu do apartamento às 13h25, todo ensanguentado e dizendo que a mãe dele havia sido morta. Momento antes, o outro rapaz, desconhecido, já tinha deixado o prédio, com a roupa limpa e asseada. “Esse rapaz pode ter sido usado como um álibi preventivo. Não dá nem para dizer que ele participou ou que tenha visto o crime. Ele (o estudante) pode ter premeditado tudo isso. Por isso, aproveito para fazer um apelo para que este rapaz se apresente espontaneamente à polícia se ele considerar que não tem nada a ver com este crime”, afirmou Teixeira.
Antecedente
Segundo o delegado Luís Fernando Lopes Teixeira, em outra oportunidade, o estudante já saiu de casa sem dar satisfações para a família. Em 2009, foi registrado pelos pais um boletim de ocorrência no DHPP por desaparecimento do estudante. Os pais dele se separaram em dezembro passado, segundo a polícia.
“Ele tinha tudo de bom. Tinha uma ótima educação. Era superprotegido. Era o filhinho da mamãe”, afirmou Márcia Galasso, cunhada da vítima.
De acordo com declarações feitas pelo tio do acusado e irmão da vítima, Marco Antônio Galasso, ao deixar a sede do DHPP, a “família inteira está chocada” com a confissão de Kleber. “Ele vai ter que passar por um tratamento psiquiátrico e vamos deixar que a Justiça decida o destino dele”, enfatizou bastante abalado.
Segundo ele, o rapaz não tinha motivos para cometer o crime. "Ele tinha de tudo, uma mãe excelente, estudou em bons colégios. Não dá para entender", concluiu.

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