quinta-feira, 23 de junho de 2011

Entenda toda a polêmica que envolve Cesare Battisti

Brasil, América do Sul - Ex-integrante da organização de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Cesare Battisti [foto acima] foi condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por quatro assassinatos, ocorridos no final da década de 1970. O italiano nega as
acusações.
Depois de preso, Battisti, considerado um terrorista pelo governo da Itália, fugiu e se refugiou na América Latina e na França, onde viveu exilado por mais de 10 anos, sob a proteção de uma decisão do governo francês de François Miterrand [foto].
Quando o benefício foi cassado, pelo então presidente Jacques Chirac [foto], que determinou a extradição de
Battisti à Itália, o ex-ativista fugiu para o Brasil em 2004. Encontrado, ele ficou preso no País a partir de 2007.
O então ministro da Justiça, Tarso Genro, sob o argumento de "fundado temor de perseguição", garantiu ao italiano o status de refugiado político, o que, em tese, poderia barrar o processo de extradição que o governo da Itália havia encaminhado à Suprema Corte brasileira. Ainda assim, o caso foi a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) no final de 2009, quando os magistrados decidiram que o italiano deveria ser enviado a seu país de origem, mas teria de cumprir pena máxima de 30 anos de reclusão, e não prisão perpétua como definido pelo governo da Itália.
Na mesma decisão, no entanto, os ministros definiram que cabia ao então presidente da República, Luiz Inácio Lula da
Silva [foto], a decisão final de extraditar ou confirmar o refúgio a Battisti.
No dia 31 de dezembro de 2010, último dia de seu governo, Lula decidiu por não extraditar Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que levantava suspeitas de que a ida do ex-ativista a seu país de origem poderia colocar em risco a sua vida. Segundo o documento, a repercussão do caso e o clamor popular tornariam o futuro de Battisti "incerto e de muita dificuldade" na Itália.
Três dias depois da decisão de Lula, a defesa de Battisti entrou com um pedido de soltura no STF, mas o governo italiano pediu ao Supremo o indeferimento da petição alegando "absoluta falta de apoio legal". Na ocasião, o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, negou a libertação imediata e determinou que os autos fossem encaminhados
ao relator do caso, ministro Gilmar Mendes [foto].
No dia 3 de fevereiro, o governo italiano encaminhou ao STF um pedido de anulação da decisão do ex-presidente Lula, acusando-o de não cumprir tratados bilaterais entre os dois países.
Os recursos foram julgados no dia 8 de junho deste ano. Primeiro, o plenário decidiu que o governo da Itália não tinha legitimidade para contestar a decisão de Lula. Em seguida, o STF determinou a liberdade imediata do italiano, por entender que não cabe ao Supremo contestar a decisão "soberana" de um presidente da República. Com o fim da sessão, o alvará de soltura de Battisti foi encaminhado para a penitenciária da Papuda, em Brasília, de onde, após quatro anos preso, ele saiu nos primeiros minutos do dia 9 de junho.
Os episódios mais recentes retratam a decisão do Conselho Nacional de Imigração, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho brasileiro, anunciado na manhã de ontem, 22, concedendo autorização para que o ex-ativista italiano permaneça no Brasil, agora de modo regular, para residir e trabalhar, condição que é um pré-requisito para a concessão do visto definitivo, o qual deverá ser expedido pelo Ministério das Relações Exteriores.
O advogado do governo italiano no Brasil, Nabor Bulhões
[foto], anunciou que não dispensará esforços para, se este for o caso, recorrer à Corte Internacional, apresentando recurso e formalizando denúncia de descumprimento a acordo bilateral no Tribunal Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, para que o ex-ativista seja levado a seu país para cumprir a pena a que foi sentenciado.
Além de muitas críticas, tanto por parte da imprensa, quanto da população e principalmente do governo italiano, vários seguimentos governamentais têm buscado maneiras de anular as decisões do governo e do Judiciário brasileiros.
Nesta quinta-feira, 23, o Conselho Regional de Lazio, órgão legislativo da região italiana, aprovou uma moção pró-extradição de Battisti. O projeto de autoria do parlamentar
Carlo De Romanis, do partido Povo da Liberdade (PDL), o mesmo do premier, Silvio Berlusconi, prevê que a presidente da região de Lazio, Renata Polverini [foto], atue em todas as ocasiões possíveis para sensibilizar o governo brasileiro para voltar atrás na decisão sobre a situação do ex-militante.
A moção, além de ser enviada à presidente do Brasil, Dilma Rousseff [foto], deverá passar pela Câmara dos Deputados e
Senado italianos, Presidência do Conselho de Ministros do país, Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia) e Conselho da União Europeia (órgão que representa os Estados-membros).
Battisti está em São Paulo, onde aguarda pelo visto de permanência e irá trabalhar como tradutor para uma editora daquela cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Prezados (as), reservo-me ao direito de moderar todos os comentários. Assim, os que me chegarem de forma anônima poderão não ser publicados e, desta forma, tão menos respondidos. Grato pela compreensão, espero contribuir, de alguma forma, com as postagens neste espaço.