Brasil, América do Sul - Ex-integrante da organização de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Cesare Battisti [foto acima] foi condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por quatro assassinatos, ocorridos no final da década de 1970. O italiano nega asacusações.
Depois de preso, Battisti, considerado um terrorista pelo governo da Itália, fugiu e se refugiou na América Latina e na França, onde viveu exilado por mais de 10 anos, sob a proteção de uma decisão do governo francês de François Miterrand [foto].
Quando o benefício foi cassado, pelo então presidente Jacques Chirac [foto], que determinou a extradição deBattisti à Itália, o ex-ativista fugiu para o Brasil em 2004. Encontrado, ele ficou preso no País a partir de 2007.
O então ministro da Justiça, Tarso Genro, sob o argumento de "fundado temor de perseguição", garantiu ao italiano o status de refugiado político, o que, em tese, poderia barrar o processo de extradição que o governo da Itália havia encaminhado à Suprema Corte brasileira. Ainda assim, o caso foi a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) no final de 2009, quando os magistrados decidiram que o italiano deveria ser enviado a seu país de origem, mas teria de cumprir pena máxima de 30 anos de reclusão, e não prisão perpétua como definido pelo governo da Itália.
Na mesma decisão, no entanto, os ministros definiram que cabia ao então presidente da República, Luiz Inácio Lula daSilva [foto], a decisão final de extraditar ou confirmar o refúgio a Battisti.
No dia 31 de dezembro de 2010, último dia de seu governo, Lula decidiu por não extraditar Battisti, com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que levantava suspeitas de que a ida do ex-ativista a seu país de origem poderia colocar em risco a sua vida. Segundo o documento, a repercussão do caso e o clamor popular tornariam o futuro de Battisti "incerto e de muita dificuldade" na Itália.
Três dias depois da decisão de Lula, a defesa de Battisti entrou com um pedido de soltura no STF, mas o governo italiano pediu ao Supremo o indeferimento da petição alegando "absoluta falta de apoio legal". Na ocasião, o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, negou a libertação imediata e determinou que os autos fossem encaminhadosao relator do caso, ministro Gilmar Mendes [foto].
No dia 3 de fevereiro, o governo italiano encaminhou ao STF um pedido de anulação da decisão do ex-presidente Lula, acusando-o de não cumprir tratados bilaterais entre os dois países.
Os recursos foram julgados no dia 8 de junho deste ano. Primeiro, o plenário decidiu que o governo da Itália não tinha legitimidade para contestar a decisão de Lula. Em seguida, o STF determinou a liberdade imediata do italiano, por entender que não cabe ao Supremo contestar a decisão "soberana" de um presidente da República. Com o fim da sessão, o alvará de soltura de Battisti foi encaminhado para a penitenciária da Papuda, em Brasília, de onde, após quatro anos preso, ele saiu nos primeiros minutos do dia 9 de junho.
Os episódios mais recentes retratam a decisão do Conselho Nacional de Imigração, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho brasileiro, anunciado na manhã de ontem, 22, concedendo autorização para que o ex-ativista italiano permaneça no Brasil, agora de modo regular, para residir e trabalhar, condição que é um pré-requisito para a concessão do visto definitivo, o qual deverá ser expedido pelo Ministério das Relações Exteriores.
O advogado do governo italiano no Brasil, Nabor Bulhões[foto], anunciou que não dispensará esforços para, se este for o caso, recorrer à Corte Internacional, apresentando recurso e formalizando denúncia de descumprimento a acordo bilateral no Tribunal Internacional de Justiça de Haia, na Holanda, para que o ex-ativista seja levado a seu país para cumprir a pena a que foi sentenciado.
Além de muitas críticas, tanto por parte da imprensa, quanto da população e principalmente do governo italiano, vários seguimentos governamentais têm buscado maneiras de anular as decisões do governo e do Judiciário brasileiros.
Nesta quinta-feira, 23, o Conselho Regional de Lazio, órgão legislativo da região italiana, aprovou uma moção pró-extradição de Battisti. O projeto de autoria do parlamentarCarlo De Romanis, do partido Povo da Liberdade (PDL), o mesmo do premier, Silvio Berlusconi, prevê que a presidente da região de Lazio, Renata Polverini [foto], atue em todas as ocasiões possíveis para sensibilizar o governo brasileiro para voltar atrás na decisão sobre a situação do ex-militante.
A moção, além de ser enviada à presidente do Brasil, Dilma Rousseff [foto], deverá passar pela Câmara dos Deputados eSenado italianos, Presidência do Conselho de Ministros do país, Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia) e Conselho da União Europeia (órgão que representa os Estados-membros).
Battisti está em São Paulo, onde aguarda pelo visto de permanência e irá trabalhar como tradutor para uma editora daquela cidade.
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