quinta-feira, 29 de março de 2012

Novas gravações relacionam Demóstenes Torres ao jogo ilegal

"Carlinhos Cachoeira" cita repasses ao senador e situação do parlamentar se torna cada vez mais insustentável

Brasília, DF - Novas evidências da relação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) [foto] com o homem preso acusado de chefiar uma quadrilha de jogo ilegal foram divulgadas ontem, 28. O nome do político aparece em conversas gravadas nas quais o empresário conhecido como “Carlinhos Cachoeira”, suspeito de chefiar exploração de jogos ilegais em Goiás, faz referência a quantias milionárias.
O senador não quis comentar. O advogado dele, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o senador está apreensivo com as denúncias. “Ele está preocupado com essas gravações, que são negativas à imagem dele. Mas no tocante à questão jurídica, nós estamos muito tranquilos”, afirmou Castro.
Ainda ontem, o ministro Ricardo Lewandowski [foto abaixo], do Supremo Tribunal Federal (STF), foi designado relator do pedido de abertura de inquérito contra Demóstenes. Caberá a Lewandowski decidir sobre o pedido feito pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, ao Supremo.
Demóstenes, além dos deputados Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), foi citado em relatório da Polícia Federal (PF) durante a operação Monte Carlo, deflagrada no mês passado, quando “Cachoeira” foi preso.
Na tarde da última terça-feira, 27, Demóstenes pediu afastamento da liderança do Democratas no Senado. Enfraquecido pelas denúncias de envolvimento com o contraventor “Carlinhos Cachoeira”, o senador vem sendo pressionado pelo próprio partido para que apresente explicações sobre o caso.
Por meio de carta-ofício encaminhada ao presidente do partido, senador José Agripino Maia (RN), Demóstenes justifica o afastamento para que “possa acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias”.
Na sexta-feira da semana passada, 23, reportagem do Jornal do Brasil (JB) apontou que gravações da PF indicam que o senador pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a “Cachoeira”.
Ainda de acordo com o JB, mesmo recebendo relatório em 2009, o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel [foto], não tomou providências para esclarecer o caso. O documento aponta que os deputados Leréia e Sandes Jr. também mantinham ligações suspeitas com “Cachoeira”.
O presidente do DEM, Agripino Maia, já admitiu que o partido está desconfortável e poderá expulsar Demóstenes da sigla, caso a Procuradoria Geral da República (PGR) apresente denúncias com “elementos fortes e claros” contra ele. “Dependendo das gravidades e qualidades da denúncia, (...) o partido já tem atuação pretérita em cima de fatos como esses que estão mencionados. O ‘Democratas’ é um partido que zela pela ética”, disse, ao ser questionado se a sigla pouparia a Demóstenes.
Ao responder questionamentos de jornalistas no Congresso Nacional na manhã de hoje, 29,
Agripino explicou que a situação é incômoda dentro do partido devido ao silêncio da PGR, o que gera dúvida no Senado Federal, cria desconforto para demais senadores e impossibilita a defesa de Demóstenes. “A dúvida gera o incômodo, (..) é preciso dar o direito do contraditório. Tudo isso deve ser posto às claras para se dar ao senador o direito de se defender e apresentar justificativas que ele deve ter”, enfatizou disparando que “a PGR dispõe de todos os elementos que precisa. Que esses elementos sejam expostos e o processo de investigação seja instalado, ou não. Acho que o Senado todo, que vive momento de constrangimento, aguarda pronunciamento da PGR”.
Na tribuna do Senado, Demóstenes se defendeu afirmando que não é investigado por nenhum crime ou contravenção e que a violação do seu sigilo telefônico não obedeceu a critérios legais. Apesar disso, o senador não negou que conheça “Cachoeira”, nem que tem uma relação próxima com o bicheiro. Nos bastidores, o mais cotado para assumir a liderança do DEM é o senador Jayme Campos (MT).
Ligações e Suspeitas
Carlos Augusto Ramos [foto], o “Carlinhos Cachoeira”, preso por exploração de jogos ilegais
em Goiás, pode ter repassado mais de R$ 3 milhões ao senador Demóstenes.
Gravações da PF revelam que “Cachoeira”, o contador Giovani Pereira Silva e o sócio Cláudio Abreu conversaram sobre várias cifras e, em meio à contabilidade, fizeram referências a supostos repasses ao senador. Trechos dos diálogos foram divulgados pelo “Jornal Nacional” (JN) na noite de ontem, 28.
As conversas foram interceptadas no ano passado, no começo da operação Monte Carlo. “Cachoeira”, Abreu e Silva estão fazendo contas de movimentação financeira da organização. Num determinado momento, Abreu pergunta a “Cachoeira” quanto ele reteve. “Um milhão do Demóstenes”, responde “Cachoeira”. Na sequência da conversa, “Cachoeira” menciona outras cifras e relaciona os números ao senador. Seriam R$ 1,5 milhão, mais R$ 600 mil e mais R$ 1 milhão. Essa última cifra teria sido o valor a ser retido, segundo noticiou o “JN”.
Representação
A soma daria, nos cálculos de “Cachoeira”, R$ 3,1 milhões. Abreu corrige o sócio e diz que parte do dinheiro já vinha sendo retida desde a eleição do Demóstenes por recomendação do próprio “Cachoeira”. A conversa dura cinco minutos, e os três mencionam o nome “Demóstenes” seis vezes. Nos trechos divulgados pela TV não estão claras as circunstâncias e nem os objetivos da suposta movimentação financeira.
Está nas mãos do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) [foto], recompor o Conselho de Ética do Senado, acéfalo desde setembro do ano passado, para que tramite a representação contra Demóstenes, apresentada ontem, 28, pelo PSOL. O documento pede abertura de processo disciplinar para investigar quebra de decoro parlamentar, com punições que vão até a perda do mandato, pelas suspeitas relações do senador com “Carlinhos Cachoeira”.
O vice-presidente do Conselho de Ética, Jayme Campos (DEM-MT), disse que é preciso que o PMDB indique o substituto do ex-presidente João Alberto (PMDB-MA). A partir daí, ele convocará, em cinco dias, uma nova eleição para que o novo comando do colegiado analise a admissibilidade da representação.
O maranhense João Alberto comandou o conselho de abril a setembro do ano passado. Antes dele, o conselho ficara desativado dois anos. Mas o líder Renan Calheiros foi categórico: “Isso não é problema do PMDB, não! Não é o líder que cuida disso, não! Eu sei lá quem!”.
Com o impasse, caberá a Sarney decidir que destino dar ao conselho e à representação contra Demóstenes, assinada pelo presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP). Ele protocolou o pedido acompanhado pelo senador Randolfe Rodrigues (AP) e pelo deputado Chico Alencar (RJ).
Na representação, o PSOL pede que sejam chamados para depor “Carlinhos Cachoeira” e os demais envolvidos no inquérito apresentado pelo MP.

(*) Com informação JB, Terra, G1 e DP online

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