Órgãos federais suspeitam que violência contra
caminhoneiros e sabotagem a trem em Bauru têm relação com presença de militares
no movimento
A
Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) investiga a participação de
integrantes das Forças Armadas e das Polícias Militares estaduais na greve dos
caminhoneiros. O objetivo seria aproveitar o momento de extrema fragilidade
política do governo Temer para provocar uma intervenção militar no país.
De acordo com
três agentes da Abin ouvidos pela piauí sob a condição do anonimato, a possível presença de militares
entre os grevistas começou a se desenhar nesta semana, quando cresceu a
violência contra os caminhoneiros – um deles foi assassinado na quarta-feira,
30 de maio, em Rondônia –, e surgiram atos típicos de sabotagem, como a
retirada de parafusos dos trilhos da linha férrea em Bauru, no interior
paulista, que levou ao descarrilamento de um trem carregado com combustível, no
dia anterior.
Em Caxias do
Sul, no Rio Grande do Sul, manifestantes bloquearam a entrada do quartel do
Exército no domingo, 27, pedindo intervenção militar no país. No Rio, segundo a
Polícia Rodoviária Federal, há indícios de envolvimento de milicianos no
movimento. A Abin também estranha a falta de pulso da polícia nos mais de 500
pontos de bloqueio de caminhões que se formaram no Brasil nos dias de greve. Os
agentes comparam com a paralisação de 2015, que durou três dias. Na época, não
houve desabastecimento de combustíveis, alimentos e remédios, como desta vez.
“Havia uma ação mais enérgica da polícia. Por que não houve desta vez? É
estranho”, questionou um dos agentes.
Na
quarta-feira, 30, a Câmara Criminal da Procuradoria Geral da República (PGR)
instaurou procedimentos para investigar se empresários e sindicalistas violaram
dois dispositivos previstos na Lei de Segurança Nacional: tentar mudar o regime
político do país com emprego de violência e “incitar a subversão da ordem
política e a animosidade entre as Forças Armadas”, crimes punidos com até 19
anos de prisão.
A Câmara Criminal
tem informações sobre a infiltração de militares na greve, mas, nesse caso,
segundo a procuradora Luiza Frischeisen, coordenadora da Câmara Criminal, a
investigação formal cabe ao Ministério Público Militar. “É algo muito grave que
precisa ser apurado”, afirmou Frischeisen. Procurado pela piauí, o promotor Adriano Alves
Marreiros, do MPM, não quis se manifestar.
As
redes sociais e, principalmente, aplicativos como o WhatsApp, têm sido
bombardeados com fake news a favor de
uma intervenção. Em um áudio, um homem se passa pelo general Eduardo Villas
Bôas, comandante do Exército, para pedir “a todos os brasileiros que saiam às
ruas nesta quarta-feira – dia 30 – pedindo a intervenção militar”. Assim, no dia seguinte,
“nós iremos destituir o presidente, junto com o Congresso Nacional e o
Judiciário. Devido à corrupção que se instaurou nesse país, faremos um governo
interino”.
A
página (verdadeira) do general no Twitter passou a ser bombardeada de
mensagens críticas a ele – muitos chamam Villas Bôas de “covarde”. “Deixou o
povo brasileiro na mão, quando a gente precisou de você.”
“São ações
práticas concatenadas com forte propaganda veiculada em aplicativos
criptografados. É tudo muito bem pensado, o que nos leva a acreditar que há
militares diretamente envolvidos”, afirmou um dos integrantes da Abin.
A
agência mapeou o descontentamento generalizado da caserna com o governo Temer,
sobretudo após a intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de
Janeiro, em fevereiro deste ano. Não são poucos os que consideram o general
Sérgio Etchegoyen “traidor” por integrar a gestão Temer. Ele é ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) a quem a Abin é subordinada. “Há
uma crise grave, muito maior do que a greve”, disse um dos agentes.
A própria Abin
teve um comportamento heterodoxo na greve, ao deixar de avisar o governo sobre
a movimentação dos grevistas nas semanas anteriores à paralisação. Na última quarta-feira,
30, na tentativa de debelar o movimento, o Palácio do Planalto divulgou o
número de celular (61) 99154-4645, com WhatsApp, batizado de “SOS Caminhoneiro”, para
que os motoristas de caminhão denunciem casos de coação que os impeçam de
retomar o trabalho.
Ilustração: Paula Cardoso
Fonte: Portal Piauí Folha Uol
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