Enquanto segue na corrida eleitoral, Manuela
D’Ávila defende taxação de fortunas e heranças e propõe polêmica cobrança de
impostos sobre a venda de drogas
A
deputada estadual pelo PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila, de 36 anos,
é a mais jovem candidata à presidência da República. Mas essa sempre foi uma
constante em sua vida. Começou a militar politicamente no movimento estudantil
ainda aos 16 anos e, de lá para cá, não parou mais. Filiou-se ao PCdoB com 21
anos e logo aos 23 se elegeu como a mais nova vereadora da história de Porto
Alegre.
Ainda
disputou a prefeitura da capital por duas vezes (em 2008 e 2012). Em 2012, já
eleita deputada federal, chegou a ficar à frente nas pesquisas, mas em setembro
foi ultrapassada por José Fortunati (MDB), que se elegeu ainda no primeiro
turno.
Por
isso, já calejada por tropeços eleitorais do passado, ela não teme uma eventual
falta de competitividade de sua candidatura, que patina e tende a não alçar voos
mais altos. O importante para ela é a defesa de suas bandeiras. “Precisamos
transformar essa eleição num debate de alternativas para superar a crise”,
disse em entrevista à IstoÉ.
Para
demonstrar seu desapego, Manuela até admite abrir mão da corrida ao Planalto.
“Se a minha candidatura é óbice à união das esquerdas, eu a retiro”, afirma.
Desde, no entanto, que a saída de cena resolva o problema de unidade de seu
campo político. “Nos retirando, apresentamos uma solução para a unidade da
esquerda brasileira?”, voltou a indagar.
Enquanto segue no páreo,
sem receio de ir até o fim, mesmo que lhe custe a eleição, praticamente certa,
ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado, Manuela desfia suas ideias.
A
candidata do PCdoB promete, caso seja eleita, taxar as grandes fortunas e
heranças. Outra proposta recheada de polêmica é a cobrança de impostos sobre a
venda de drogas, como a maconha, cuja arrecadação seria aplicada nas
comunidades que sofrem, segundo ela, com a guerra do tráfico.
Qual
a sua opinião sobre a Lei da Ficha Limpa? Em que momento a lei deve começar a
valer?
Mas essa questão já não está colocada,
que é a partir de uma condenação em segunda instância? Temos que debater no
Brasil se as decisões valem em segunda instância ou ao término de todas as instâncias.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal adotou um entendimento para outro
conjunto de questões. Então acho que é a hora de a gente debater do ponto de
vista da legislação mesmo. Como deputada, votei pela Ficha Limpa.
Seu partido, historicamente,
sempre apoiou o PT. Por que nesta eleição deixou de apoiá-lo?
Não é que vamos deixar de apoiar o PT
porque eu sou candidata, mas sim pelas razões pelas quais sou candidata. Nós
acreditamos numa candidatura do PCdoB e fizemos esse debate no ano passado.
Portanto, antes da prisão do Lula. Acreditamos que a crise econômica e o
impeachment sem crime de responsabilidade abrem um novo ciclo para o Brasil e
que nós precisamos transformar essa eleição em um debate de alternativas para
superar a crise.
O deputado Orlando Silva
(PCdoB/SP) disse que a senhora poderia desistir da candidatura para apoiar Ciro
Gomes e que a senhora concorreria ao governo do Rio Grande do Sul. Isso é
possível?
A minha candidatura não é óbice para a
unidade da esquerda. Se eu retirar minha candidatura hoje, o campo
progressista, desenvolvimentista, estará unido? Os outros três candidatos
teriam essa disposição? Eu teria. Se a minha candidatura é o óbice para a união
da esquerda, então não há mais óbice. A virtual retirada da minha candidatura
não resolveria o problema da unidade de um campo político. Nos retirando,
apresentamos uma solução para a unidade da esquerda brasileira? Não. Hoje,
vocês me verão como candidata à Presidência. Jamais descartarei o Rio Grande do
Sul, que é o estado que me fez deputada e vereadora. O fato é que, mesmo muito
bem posicionada nas pesquisas para o governo do Estado, houve interpretação do
meu partido de que o debate para saídas da crise nacional tem impacto na
situação dos estados.
Quase
metade do eleitorado declara voto branco ou nulo. Como reverter o descrédito da
população na classe política?
É um dos grandes debates dessa
eleição. Eu, aos 16 anos, tomei a decisão de me filiar a um partido político
para transformar a realidade do nosso país. Percebi que não havia outra saída
para o País a não ser transformar a nossa realidade. E essa saída seria através
da minha participação política. Sou a prova de que é possível fazer uma
política que transforma.
Quais
reformas são as mais importantes?
Será o conjunto de reformas que eu
defendo e que recomponham a capacidade de investimento público a partir de uma
reforma tributária, que taxe os multimilionários, que cobre impostos sobre
fortunas ou heranças, ou será a partir hipoteticamente da reforma da
Previdência do Temer? Como seria o Brasil governado por mim? O Brasil buscaria
construir um caminho próprio, seria livre para se desenvolver enquanto nação.
Serei uma presidenta obcecada em combater a desigualdade.
Em
que ponto a esquerda erra ao não tentar combater o discurso que permite a
ascensão da direita?
O tema da intervenção militar decorre
da ausência de legitimidade e autoridade do governo Temer. Diante de um quadro
de insegurança geral, de 25 milhões de desempregados ou subocupados, tu quer
uma autoridade. Espero que todos os democratas pensem nisso, porque o
oportunismo eleitoral da direita brasileira fez com que muitos flertassem com
soluções autoritárias, como se liberais brasileiros tivessem sido picados por
uma espécie de mosquinha do fascismo. Isso já nos custou mais de 20 anos de
ditadura militar.
Qual a sua posição sobre a
privatização da Petrobras?
Absolutamente contra. Privatizar não é
um tema moral, e às vezes é tratado como se a esquerda não pode privatizar nada
e a direita privatiza tudo. Acredito que a Petrobras tem um papel central no
desenvolvimento nacional. Sou contra também a privatização da Eletrobrás.
Tenho acesso a dois números, do
governo e da CPI, que são diferentes. É preciso debater a Previdência, mas
precisamos saber exatamente qual a situação. Quando falamos de idade mínima, a
gente se inspira em outros países em que os trabalhadores vivem de forma muito
diferente que no Brasil. Temos que discutir quais os privilégios que precisam
ser enfrentados.
Onde o comunismo deu certo? A
senhora quer implantar o comunismo que nem na Albânia deu certo?
Falar da Albânia é falar de um tempo
no passado. O PCdoB é um partido centenário, passou por vários acontecimentos
do mundo ao longo da história. Esse é um debate absolutamente antigo e
superado. Eu não defendo o modelo de nenhum país para o Brasil. Eu defendo que
o Brasil construa o seu projeto de desenvolvimento único.
Mas
vai taxar grandes fortunas?
Sim, vamos fazer isso. A minha idéia é
a de que o Brasil precisa se desenvolver. Qual o parâmetro de desenvolvimento?
Cada país tem o seu modelo de desenvolvimento que reflete o seu povo. Dá pra
copiar? Não. São referências para se olhar, mas o Brasil tem que seguir seu
caminho próprio.
Qual sua proposta para
segurança?
Esse tema foi tratado de forma
burocrática nos governos Lula e Dilma, como se fosse atribuição apenas dos
governadores. Pretendo ser uma presidente que entenda a necessidade de uma
reforma da segurança pública e que precisa ser feita a partir do olhar de quem
defende os mais pobres. Temos que saber quais crimes queremos combater. Defendo
o foco das ações no controle de armas, e no combate de homicídios e crimes
sexuais. Os trabalhadores saem de casa pulando corpos de filhos de outros
trabalhadores. Existe como desenvolver o país sem paz? Não.
E
as falhas na educação, como resolvê-las?
Sou contra medidas propostas por
outras candidaturas de federalização de níveis de educação, isso é comer pelas
beiradas. Ou seja, não está bom o ensino médio e aí federaliza. Sou contra. A
União precisa garantir a recomposição da capacidade de investimento dos estados
e municípios. O tema é pacto federativo. Eu quero dar para todas as crianças
brasileiras o ensino que eu pago para minha filha.
Quais
suas propostas para a saúde?
Em primeiro lugar, a manutenção do
SUS. Vivemos hoje um governo que ameaça de todas as formas o SUS. Temos que
debater o financiamento do SUS, o tamanho do seu financiamento e as formas que
temos de garantir o melhor investimento dos recursos.
Quais
suas ideias para o combate à corrupção?
Os modelos do mundo no combate à
corrupção que eu estudei são baseados em uma palavra que não tem tradução em
português, ‘accountability’, que é mistura de transparência com participação popular.
O governo é como uma parede de vidro, em que a população não tem acesso às
informações. Temos estruturas de Estado que garantem que os casos sejam
investigados e punidos, mas não impedem que a corrupção aconteça.
Sua
opinião sobre o aborto?
Defendo que seja tratado como tema de
saúde pública. O aborto é uma escolha da mulher.
E sobre a pena de morte?
Sou contra. Acredito no ser humano e
que podemos ressocializar os infratores quando for possível e nos proteger
deles quando for necessário.
A
senhora é a favor da descriminalização das drogas?
Defendo a tributação das drogas, em
comércio legal, mas não em qualquer comércio. É preciso debater o assunto de
forma científica e não moral. Defendo a tributação das drogas e que esse
recurso seja usado nas comunidades que vivem a guerra das drogas.
Por
que a senhora se considera a melhor candidata à presidência?
O Brasil precisa ser governado por uma
pessoa comum, que não pensa que a política deve servir em benefício próprio. Eu
acredito no Brasil e sou a melhor candidata porque tenho condições de construir
esse caminho, dialogando com o Congresso, mas, sobretudo, com a sociedade.
Precisamos garantir que o Brasil debata saídas para a crise e virar a página de
um sentimento de ódio que impregna determinadas candidaturas.
Participaram da sabatina os
jornalistas: Camila Srougi, Cilene Pereira, Germano Oliveira, Luis Artur
Nogueira, Mário Simas Filho, Ralphe Manzoni Jr e Ricardo Boechat
Leia a íntegra da sabatina com
Manuela D’Ávila através do endereço https://istoe.com.br/se-a-minha-candidatura-e-obice-a-uniao-das-esquerdas-eu-a-retiro/.
Fonte: Portal IstoÉ
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