Campanha reduzida na TV e maior uso de redes
sociais está longe de dar maior acesso a quem está fora da política...
Resultado esperado é pouca renovação
Acostumados às regalias da vida pública, deputados e
senadores pretendem continuar na política e dificultar a entrada de novos nomes
no Congresso Nacional. Cerca de 80% dos parlamentares eleitos pretendem
continuar na carreira — 67 pessoas no Senado e 434 na Câmara. Alguns, ainda que
fora do Parlamento, buscam novos cargos, como o de presidente da República e
governador. Seis meses após a aprovação da reforma política, cuja bandeira era
justamente a renovação, poucos movimentos devem ser concluídos no pleito de
2018. As vagas que sobrarem serão preenchidas por quem já tem capital político
e, até, pelos herdeiros de votos.
Compilando
os resultados de três pesquisas, foi realizado um levantamento sobre o futuro
dos parlamentares na política (veja quadro abaixo). Muitos, ainda que
investigados na Lava-Jato, pretendem se manter em cargos eletivos. “Faço
palestras sobre isso o tempo todo. O empenho dos políticos profissionais em
continuar nessa trajetória não favorece quem ainda quer chegar a esse mundo.
Aliado a isso, teremos uma eleição mais curta, menos dinheiro, menos tempo na
tevê e a falta de interesse da população”, conta o advogado Daniel Falcão,
especialista em direito eleitoral.
O
professor acredita que, pelas mudanças na reforma política, até a divisão do
fundo de campanha beneficia os mais antigos. “Foi tudo feito de maneira a
beneficiar quem já está no poder. Existe má-vontade até dos partidos em colocar
novas pessoas, visto que tem gente com capital político e votos herdados
disponível no mercado”, complementa Falcão. A PEC que alterou o sistema
eleitoral traz 40 dias a menos de campanha, menos tempo na tevê e mudanças na
cláusula de barreira. Assim, quem não atingir números de votos ou de pessoas
eleitas não terá direito à propaganda em 2022. “Você acaba matando os mais
novos”. Doações por empresas estão proibidas desde as eleições municipais
de 2016, o que deixa os candidatos mais dependentes das estruturas partidárias,
a não ser os que podem financiar a própria campanha.
Instituída
em 1998, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como presidente
da República, a reeleição teve seu auge em 2006. Como resultado daquele pleito,
79% dos governadores continuaram em seus cargos durante mais quatro anos. Eram
outros tempos: a economia ajudava e a eleição ainda contava com dinheiro
privado para bancar as produções exageradas que ocorriam à época.
O cientista
político Ivan Ervolino acredita que a renovação será difícil de acontecer. “Falta
oxigenação, infelizmente. Quem está com o poder entranhado não consegue mais
deixar para lá. Quem tem poder para mudar isso é a sociedade, mas o jeito é
buscar novas ideias em plataformas a que nem todo mundo tem acesso, como a
internet”.
Segundo
especialistas, o uso da rede, longe de garantir a democratização do acesso à
campanha, será usado com maior facilidade por quem já detém mandato, com um
trabalho iniciado em redes sociais. Esses candidatos terão também maior
facilidade para incrementar o uso dos meios eletrônicos, já que terão acesso a
mais recursos dos partidos.
Caciques
com poder suficiente para indicar aliados e parentes não deixam as vagas
abertas para novatos ou outsiders. Na eleição de 2014, 290 dos 513 deputados já
integravam a legislatura anterior e se reelegeram. Dos outros 223, apenas 24 –
4,7% da Casa – de fato nunca havia trabalhado ali. O resto entra na cota dos
herdeiros de votos, dos que já tiveram mandatos anteriores como deputado ou
atuaram em outra esfera do Legislativo ou do Executivo.
“Gente com quatro, cinco mandatos seguidos e com extensa
vida política não entra nessa conta da renovação. São políticos profissionais
que ficarão ali enquanto não houver uma iniciativa popular através do voto.
Precisamos de gente interessada disposta a votar em quem trouxer novas ideias”, finaliza
Ervolino.
Sem Vagas
A Reforma Política foi aprovada para dificultar
renovações no Congresso. Estudos mostram que os “políticos profissionais” não
querem abrir mão do mandato. Com poucas cadeiras disponíveis, os partidos
sequer abrem espaço para lançar novos nomes.
Senado Federal
Total: 81
Não vão concorrer: 14
Em dúvida: 4
Candidatos a
Presidente da
República: 2
Governador(a): 22
Vice-governador(a): 2
Senador: 37
Investigados na
Lava-Jato: 23
Câmara dos Deputados
Total: 513
Não vão concorrer: 79
Em dúvida: 69
Candidatos a
Presidente da
República: 1
Governador: 6
Vice-governador: 3
Deputado federal: 355
Investigados na
Lava-Jato: 55
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