Ilha de Fernando de Noronha.
(foto: Arquivo/Secretaria de Turismo de Pernambuco)
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Após
anúncio, governo de Pernambuco reage, critica liberação e vê desrespeito à
natureza
O governo federal de Jair
Bolsonaro decidiu liberar a entrada de cruzeiros marítimos em Fernando de
Noronha (PE), um dos ecossistemas mais sensíveis de biodiversidade do país e
hoje administrado com forte rigor ambiental. O governo também pretende instalar
novos "recifes artificiais" na área, com naufrágio de embarcações em
determinados locais para atrações de mergulho.
A informação foi confirmada
pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), que esteve na ilha com o
presidente da Embratur, Gilson Machado. Em um vídeo, Flávio diz que o governo
está agindo para “desatar os nós” da legislação e permitir e ampliar a
exploração turística de Fernando de Noronha.
Há sete anos Noronha não
recebe cruzeiros marítimos com regularidade. A administração do arquipélago é
feita pela Agência Estadual de Meio Ambiente e pelo Instituto Chico Mendes da
Biodiversidade (ICMBio), que no ano passado chegou a ter seu gestor afastado do
cargo pelo governo.
Morro Dois Irmãos, um dos cartões postais de Fernando de Noronha: volta dos cruzeiros é nova ameaça. (foto: Márcio Cabral – Biosphoto) |
Após o governo federal
anunciar que decidiu liberar a entrada de cruzeiros marítimos em Fernando de
Noronha e ainda instalar novos “recifes artificiais” na área, com naufrágio de
embarcações em determinados locais para atrações de mergulho, o governo de
Pernambuco, estado onde o arquipélago está localizados, criticou a iniciativa. “A
proposta é descabida e não respeita a natureza”, afirmou o secretário estadual
de meio ambiente, José Bertotti, em entrevista na noite da última terça-feira,
03, lembrando que o anúncio não foi precedido de estudo técnico ou discussão
com especialistas.
Em nota, o governo de
Pernambuco atacou a iniciativa. “As 21 ilhas do arquipélago abrigam uma
biodiversidade única e não podem ser alvo do modelo de turismo predatório
sugerido no vídeo publicado pelo senador Flávio Bolsonaro e o presidente da
Embratur, Gilson Machado”, afirma a nota assinada por Bertotti. O secretário
afirma ainda que “fica claro como os representantes do governo federal se
ocupam muito mais em querer impor um tipo de visitação que não respeita a
natureza do que focalizar sua energia em iniciativas que respeitam o meio
ambiente ou que ofereçam melhores condições de vida aos moradores do
arquipélago”.
Em entrevista, Bertotti
lembrou que plano de manejo contratado pelo próprio governo federal demonstra
que já há um excedente de turistas além do permitido. “Esse modelo é descabido
e uma ameaça a um Patrimônio da Humanidade que é Fernando de Noronha”, afirmou.
Em 2018, foram recebidos no arquipélago 103 mil turistas, quando, pelo plano de
manejo contratado pelo ICMBio, a carga máxima deveria ser de 89.790.
Em reportagem publicada no
#Colabora em setembro, quando o presidente Jair Bolsonaro anunciou pela
primeira vez a intenção de liberar os cruzeiros, a jornalista Carla Lencastre
lembra que a liberação dos cruzeiros é polêmica em vários outros pontos
turísticos do mundo. “A ilha de Palma de Mallorca, uma das mais concorridas
durante o quente verão espanhol, pediu a redução dos cruzeiros em seu
movimentado porto para apenas um por dia (hoje podem ser mais cinco) visando a
amenizar o impacto ambiental”.
Baía dos Porcos, em Fernando de Noronha: ecossistema vulnerável à presença humana. (foto: Márcio Cabral – Biosphoto) |
Desde o verão 2013/2014,
Fernando de Noronha não recebe cruzeiros marítimos com regularidade. O motivo
passa por restrições impostas às operadoras para fretar navios e licenças
ambientais. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o plano do governo
federal é liberar visitas para embarcações com 600 passageiros ou mais – mesmo
até a suspensão, os cruzeiros ao arquipélago levavam, no máximo, 200
passageiros.
Na nota, José Bertotti afirma
ainda que “a informação de que o governo federal vai ‘autorizar’ a entrada de
cruzeiros marítimos em Fernando de Noronha deixa mais uma vez evidente a
maneira como a União lida” com o meio ambiente. “As referidas autoridades
desconhecem a existência da limitação do número de visitantes em Fernando de
Noronha e as consequências de colocar na ilha mais de 600 pessoas de uma só
vez, como acontece no caso dos navios de cruzeiro”, acrescenta o secretário de
Meio Ambiente de Pernambuco.
Fonte: Portal Metro1/Portal
Projeto Colabora
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