Enfermeira atende paciente com Coronavírus no hospital Bichat AP-HP em Paris. (Foto: Anne CHAON) |
Especialista
diz ser necessário entre 50
e 66% de pessoas infectadas e imunizadas para eliminar a pandemia
Enquanto
aguardam o pico da epidemia do Novo Coronavírus na Europa, ou seja, o número
máximo de casos, os especialistas se perguntam o que acontecerá a seguir.
Depois que o "tsunami" passar, como descrito pela
equipe médica na Itália, a questão é se o número de casos começará a cair ou,
pelo contrário, haverá "réplicas secundárias" recorrentes.
A
diretora-geral da agência francesa de Saúde Pública, Geneviève Chêne, admite
que "é muito cedo para ter certeza da dinâmica da epidemia".
Tendo
em conta a experiência da China e da Coreia do Sul, os primeiros países
afetados, "vemos que há uma dinâmica de um período entre dois e três meses
com uma reversão do pico, após medidas muito rigorosas, entre o primeiro e o
segundo mês", explicou em declarações à rádio France Info.
Nesse
caso, a queda no número de casos na França começaria em maio.
Na
China, a onda parece ter passado. Por vários dias, e até esse final de semana,
o país não registrou nenhum caso de infecção local por Covid-19.
Mas
o especialista em saúde pública e epidemiologista Antoine Flahault diz que pode
ser um período de calma antes de uma nova onda de infecções.
"Será
que a China experimentou apenas uma onda anunciadora (...) enquanto a grande
onda ainda está por vir?", questionou na revista médica The Lancet.
Para
entender o complexo funcionamento das epidemias, é preciso voltar à gripe de
1918, que, em três ondas sucessivas, deixou quase 50 milhões de mortos e depois
desapareceu.
Por
que a "grande gripe" desapareceu? É uma pergunta que intriga os
matemáticos, incluindo os escoceses William Ogilvy Kermack e Anderson Gray
McKendrick, que criaram modelos para entender sua evolução.
Em
sua análise, descobriram que uma epidemia desaparece não por causa da
"falta de combatentes" – uma situação em que um agente infeccioso
desaparece junto com os pacientes que mata – mas por causa da aquisição de
"imunidade de grupo", explica Flahault, diretor do Instituto de Saúde
Global da Universidade de Genebra (Suíça).
"A
imunidade de grupo é a proporção de pessoas imunizadas contra o vírus (por
infecção ou vacina quando existe) necessárias para bloquear qualquer risco de
ressurgimento da epidemia", explica ele à AFP.
Essa
proporção depende da facilidade com que o vírus é transmitido de uma pessoa
infectada para uma pessoa saudável.
Esquematicamente,
quanto mais contagiosa a doença, maior será a proporção de pessoas imunizadas
para que a epidemia pare.
Flahault
calcula que, no caso do Covid-19, "é necessário entre 50 e 66% de pessoas
infectadas e imunizadas para eliminar a pandemia".
Mas
o nível de contagiosidade (chamado 'R') varia ao longo do tempo em função das
medidas sanitárias que se aplicam (quarentena, medidas de barreira,
confinamento) e também das condições climáticas.
Se
'R' for inferior a um, é possível dizer que um doente contamina menos de uma
pessoa, "então a epidemia é contida", explica Flahault.
Ressurgimento
Mas
"não necessariamente desaparece, principalmente se a proporção de
imunizados não atingir entre 50% e 66%. Pode fazer uma pausa. É o que está
acontecendo agora na China e na Coreia", diz ele.
"Os
freios sanitários ou meteorológicos são transitórios" e, quando
desaparecem, a epidemia recomeça até atingir a imunidade de grupo, ressalta o
especialista francês.
O
chefe do serviço de doenças infecciosas do hospital de Paris Pitié-Salpêtrière,
François Bricaire, também acredita que é possível um ressurgimento da epidemia.
"O
reaparecimento da Covid-19 é uma possibilidade, com um ressurgimento
sazonal", explica ele à AFP.
De
acordo com a especialista australiana em doenças infecciosas Sharon Lewin, o Novo
Coronavírus pode retornar após a onda atual.
"Não
sabemos se ele voltará", reconhece, lembrando que a SARS (Síndrome
Respiratória Aguda Grave), também causada por um Coronavírus, matou 774 pessoas
em 2002 e 2003 e desapareceu graças a medidas estritas de "distanciamento
social".
Tudo
isso pode mudar se, como a indústria farmacêutica promete, uma vacina for
alcançada dentro de 12 ou 18 meses.
Fonte: AFP
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