Ex-comandante do Exército servo-bósnio estava em casa da família da mãe em vila de 2 mil habitantes ao norte de Belgrado
Vivendo sob um nome fictício em uma minúscula vila no Norte da Sérvia, relata-se que Ratko Mladic [foto], o fugitivo de guerra mais procurado da Europa, estava com duas pistolas, mas não ofereceu nenhuma resistência ao ser finalmente preso nesta quinta-feira, 26, depois de quase 16 anos foragido.
O ex-comandante do Exército servo-bósnio, de 69 anos, que parece ter um braço paralisado, não estava disfarçado e foi "muito cooperativo", disse a rádio B92 de Belgrado.
Mladic, que enfrenta acusações que incluem genocídio pelo massacre de até oito mil homens e meninos muçulmanos em Srebrenica, em 1995, foi capturado durante uma operação no amanhecer desta quinta-feira. Segundo vizinhos, a polícia cercou o local às 5h30 (0h30 de Brasília).
Três unidades especiais da agência de inteligência da Sérvia dirigiram-se a uma casa na vila de Lazarevo, a cerca de 80 km a Norte de Belgrado, disseram fontes de segurança sérvias à agência AFP. A casa de tijolos amarelos de apenas um andar, com um pequeno jardim e uma cerca baixa – propriedade de um parente da mãe de Mladic – estava sob supervisão havia duas semanas, disse uma das fontes.
O ex-comandante, que tinha documentos em nome de Milorad Komadic, "parecia um idoso", disse à Associated Press Rasim Ljajic, um ministro do governo encarregado de cooperação com o tribunal de crimes de guerra da ONU.
"Qualquer um passaria por ele sem reconhecê-lo", explicou. "Estava pálido, o que poderia indicar que raramente se aventurava para fora da casa – uma razão provável de por que passou despercebido." Segundo autoridades, a prisão de Mladic só foi possível por uma denúncia anônima.
A operação para prendê-lo foi tão tranquila que não incomodou a vizinhança local. "Eles nem nos acordaram", disse um residente de Lazarevo. Ele e outros garantem que não sabiam que ele estava escondido na localidade e nem sequer o conheciam pelo nome falso que usava.
O prefeito da pequena localidade de dois mil habitantes, Radomir Stosic, garantiu que não conhecia ninguém com o nome de Komadic. Ele também disse que Mladic tem familiares na região e, durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), ia com frequência ao povoado.
Apoio e proteção
Mladic escapou da prisão durante anos. Após o fim da guerra da Bósnia, voltou a Belgrado, onde usufruía de apoio e proteção do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic [foto].
Ele vivia abertamente na cidade – visitando locais públicos, comendo em restaurantes caros e até participando de jogos de futebol. Até a prisão de Milosevic, em 2001. Alguns relatos dão conta de que ele buscou refúgio em seu bunker em Han Pijesak, não muito longe de Saravejo, ou em Montenegro. Outros dizem que ele permanecer em Belgrado ou nos seus arredores. Em vez disso, parece que ele vivia havia algum tempo em uma vila tranquila do Norte da Sérvia.
Mladic foi o principal comandante do Exército servo-bósnio durante a Guerra da Bósnia, que deixou mais de 100 mil mortos e expulsou outros 1,8 milhão de suas casas. Milhares de muçulmanos e croatas foram mortos, torturados ou desalojados para "limpar" a região de não sérvios.
Após sua prisão nesta quinta-feira, o ex-comandante compareceu a uma sessão fechada de uma corte em Belgrado. No entanto, a audiência e seu interrogatório foram suspensos logo depois por faltar um exame médico do acusado e por sua condição de saúde, disseram seus advogados.
As autoridades trabalham para extraditá-lo para o tribunal de crimes de guerra da ONU em Haia, Holanda. Como é provável que ele entre com uma apelação contra essa medida, o processo pode demorar pelo menos sete dias.
* Com informações da BBC, Reuters, AP e AFP
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