quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dilma afirma que governo não deve fazer propaganda de opções sexuais

Presidente pode ter se baseado em "kit errado" ao vetar cartilha contra homofobia. Presidência e ministro Fernando Haddad não descartam que Dilma tenha visto material do Ministério de Saúde, que foi levado por evangélicos ao Planalto na reunião de quarta-feira.

Depois de participar de cerimônia, na manhã de hoje, 26, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff afirmou que não concorda com o conteúdo do kit de combate à homofobia que seria distribuído nas escolas públicas de ensino médio por não atender ao objetivo de combater a discriminação contra homossexuais. Na avaliação de Dilma, o governo não deve fazer propaganda de opções sexuais.
“O governo defende a educação e a luta contra práticas homofóbicas, no entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais, nem podemos interferir na vida privada das pessoas. O governo pode, sim, ensinar que é necessário respeitar a diferença e que você não pode exercer práticas violentas contra os diferentes”, disse.
A decisão, tomada ontem, 25, pela presidente, após reunião com integrantes de frentes religiosas da Câmara dos Deputados, pode ser revista, e a produção retomada, caso venha a ser confirmada a manobra da bancada evangélica para induzir a presidente ao erro na suspensão do material, composto por um caderno, seis boletins, três vídeos e um cartaz, previsto para ser distribuído a seis mil escolas no segundo semestre deste ano.
Equívoco
A suspeita que paira no Palácio do Planalto é de que os evangélicos, contrários ao material e, mais ainda, avessos à abordagem deste tema, teriam levado livretos do Ministério da Saúde. Tal hipótese não é descartada pela própria Presidência da República, bem como pelo MEC.
De acordo com a Rede Brasil Atual, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) [foto], um dos principais interlocutores do encontro, mostrou à presidente um material elaborado pelo Ministério da Saúde. A assessoria do parlamentar descreveu os títulos dos materiais apresentados na reunião. "O caderno das coisas importantes” foi elaborado pelo MEC, mas em parceria com o escritório da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco) e sem qualquer relação com o kit contra a homofobia. Outro, também em parceria com a agência da ONU, é a história em quadrinhos “A vida como é – e as coisas como são”, lançada em 2010, abordando as relações entre filhos homossexuais e seus pais.
Os demais são de um programa do Ministério da Saúde que visa a reduzir danos no uso de drogas e ao combate a doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Ao ser informada por telefone que o material citado não diz respeito ao kit contra a homofobia, a assessoria do deputado afirmou que “chegou a nossas mãos como sendo o kit-gay (sic). De qualquer maneira é pornográfico”.
Origem
Ainda de acordo com a Rede Brasil Atual, a fonte das cartilhas encaminhadas a parlamentares ligados às causas religiosas é o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp). O presidente da entidade, Pastor Wilton Acosta, usou parte do material do Ministério da Saúde em um debate da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão a respeito dos programas do governo federal sobre diversidade sexual.
As mesmas imagens estão disponíveis na página da Fenasp na internet. A reportagem da Rede Brasil Atualtentou, sem sucesso, contato telefônico com Acosta. A secretária-geral da organização, Damares Alves, afirmou não saber se as cartilhas foram apresentadas a Dilma Rousseff como parte do kit contra a homofobia. O mesmo material foi levado por Damares a uma reunião com o ministro da Educação, Fernando Haddad. “A gente quis mostrar para ele que é uma prática do governo a produção de material de mau gosto”, explica.

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