domingo, 29 de maio de 2011

Estado lidera ranking e soma 800 assassinatos no campo

Em 2010, Pará concentrou mais da metade das mortes registradas em conflitos rurais
Pará, Brasil – O assassinato dos líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrido na última terça-feira, 24, em uma estrada no Leste do Pará, estado da região Norte do Brasil, está longe de ser um caso isolado.
Nos últimos anos, o Brasil se acostumou a enterrar vítimas da violência no campo. Somente no Pará, nas últimas quatro décadas, mais de 800 pessoas perderam a vida em crimes cometidos no ambiente rural, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra). De todos esses casos, apenas 18 foram a julgamento. Oito pessoas foram condenadas, e somente uma cumpre pena.
São histórias que se repetem. Os que tombam, quase sempre, são pessoas que entram em choque com interesses de latifundiários, fazendeiros e madeireiros ao levar adiante sua luta pelo acesso à terra e pela preservação da natureza.
Foi assim com o seringueiro Chico Mendes, morto a tiros em casa em 1988, no município de Xapuri, no Acre. Foi assim com os 19 sem-terra brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Pará em 1996, no mundialmente conhecido massacre de Eldorado dos Carajás. Foi assim com a missionária americana Dorothy Stang, morta a tiros em 2005 na cidade de Anapu, também no Pará.
E foi assim agora, com José, que tinha 54 anos, e Maria, de 53, baleados na manhã de terça em uma estrada na zona rural de Nova Ipixuna. A polícia desconfia que o casal foi vítima de uma tocaia e que o crime foi encomendado. A presidente Dilma Rousseff ordenou à Polícia Federal que investigue o caso.
Ainda no fim de 2010, em uma palestra sobre a Amazônia, José advertiu que corria risco. Duas semanas antes do crime, ele e Maria encaminharam ao Ministério Público uma denúncia de crime ambiental contra três madeireiras.
– A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo, a mesma coisa que fizeram com irmã Dorothy Stang querem fazer comigo. Posso estar conversando hoje com vocês e daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu já faleci.
Números
No ano passado, de acordo com levantamento da CPT, foram registrados 1.186 conflitos no campo brasileiro, dois a mais que em 2009. O dado mais alarmante, porém, refere-se ao número de assassinatos: 34, um aumento de 30% em relação ao ano anterior, quando 26 pessoas morreram por questões agrárias.
O Pará é o Estado que lidera as estatísticas. Lá, em 2010 foram registradas 18 mortes, mais que a metade do total relativo ao Brasil inteiro.
O cenário é o mesmo quando se consideram os dados da Ouvidoria Agrária Nacional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário: o levantamento apontou 63 homicídios no campo entre janeiro e dezembro de 2010, sendo 11 deles decorrentes de conflitos agrários. Destes 11, o Pará foi o palco de sete.
O advogado José Batista Afonso, que trabalha para a CPT em Marabá, cidade que está na região leste do Estado, lembra que o triste quadro de violência rural na região é perpetuado devido a um misto de fatores que reflete algumas das principais mazelas do Brasil: pobreza, concentração de renda e acesso desigual aos serviços públicos, principalmente à Justiça.
– A reforma agrária não é prioridade, mexer na concentração da terra não é uma política prioritária por parte do governo, e outro fator é o atual modelo econômico imposto para a Amazônia e para o campo brasileiro, que privilegia o agronegócio, o setor madeireiro e de mineração.
A impunidade, diz ele, exerce ainda um papel especial, pois beneficia tanto quem mata como quem manda matar e acaba por banalizar a rotina de crimes.
– Aqui, nessa região, o crime compensa. Muitas vezes, aqueles que cometem os crimes e são donos do poder econômico, a Justiça dificilmente os alcança. A impunidade acaba virando regra em relação aos crimes que eles cometem. A impunidade é uma espécie de licença para matar.
(*) Informação TN Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Prezados (as), reservo-me ao direito de moderar todos os comentários. Assim, os que me chegarem de forma anônima poderão não ser publicados e, desta forma, tão menos respondidos. Grato pela compreensão, espero contribuir, de alguma forma, com as postagens neste espaço.