Pesquisadores analisaram
dados de pesquisa realizada entre 1999 e 2010 com 30.899 pessoas
Grande estudo da Universidade Tufts (EUA) descobriu que
certas vitaminas e minerais podem ajudar a prolongar sua vida – mas apenas se
você os obtiver de alimentos, não de suplementos.
Depois
de uma década seguindo mais de 30.000 pessoas, a nova pesquisa se junta a um corpus que tem concluído que tomar
suplementos vitamínicos e minerais não oferecem benefícios discerníveis em
termos de redução dos riscos de morte em geral, ou de morte por doenças
cardiovasculares e cânceres especificamente.
Em termos simplificados, pílulas,
provavelmente, não substituem uma dieta saudável, uma conclusão que não vai
agradar a indústria bilionária dos suplementos.
Dados
Os
pesquisadores analisaram dados de uma pesquisa massiva (Pesquisa Nacional de
Saúde e Nutrição dos EUA) realizada entre 1999 e 2010 com 30.899 pessoas. Mais
de 27 mil desses participantes forneceram informações sobre sua dieta e
ingestão de suplementos.
O
questionário também incluiu dados demográficos e outras informações de saúde,
incluindo se as pessoas fumavam, bebiam, se exercitavam ou tinham problemas
médicos, como câncer e diabetes.
Os
participantes foram entrevistados em suas casas por pessoas treinadas e por
telefone. Os autores do estudo, em seguida, consultaram registros médicos de
mortes relacionadas aos participantes durante o período da pesquisa. 3.613
pessoas faleceram.
A população em
geral, um pouco mais da metade dos participantes do estudo disseram que tomavam
suplementos e quase 40% tomavam multivitaminas. Os suplementos individuais mais
comuns que as pessoas consumiam eram vitaminas C, D e E, assim como cálcio e
magnésio.
Resultados
Iniciais
O
estudo teve algumas limitações. Por exemplo, os cientistas precisaram confiar
nos relatos das pessoas sobre sua dieta e ingestão de suplementos. A partir
disto, estimaram quanto de cada um dos principais micronutrientes os
participantes consumiam por dia, definindo se o número estava abaixo ou acima
dos níveis recomendados.
À
primeira vista, os participantes que tomavam suplementos pareciam ser mais
saudáveis, com um risco reduzido de mortalidade por todas as causas. Mas essa
associação desapareceu quando os pesquisadores consideraram dados demográficos
e de saúde.
“Nossos
resultados e os de outros estudos sugerem que os usuários de suplementos têm
níveis mais altos de educação e renda e um estilo de vida mais saudável (por
exemplo, melhor dieta, níveis mais altos de atividade física e peso saudável)
do que os não usuários”, escreveram em um artigo.
Assim, “a aparente associação entre o
uso de suplementos e menor mortalidade pode refletir confusão por maior status
socioeconômico e fatores de estilo de vida saudáveis que são conhecidos por
reduzir a mortalidade”.
Detalhando
as Descobertas
Quando os pesquisadores separaram os efeitos dos
micronutrientes individuais descobriram que a ingestão adequada de vitamina K e
magnésio estava associada a um risco menor de mortalidade por todas as causas.
Além disso, a vitamina A, vitamina K, zinco e de cobre foram associados com um
menor risco de morte por doença cardiovascular. Mas esses benefícios eram restritos
à ingestão de alimentos – não suplementos.
Além
de uma falta de benefícios dos suplementos, o estudo encontrou, na verdade,
danos potenciais.
No
estudo, altas doses suplementais de cálcio (1.000 mg ou mais por dia), por
exemplo, foram associadas a maiores riscos de mortalidade por câncer.
Da mesma forma, as pessoas que tomavam
suplementos de vitamina D, mas não tinham deficiência nessa vitamina, pareciam
ter maiores riscos de mortalidade por todas as causas.
Nutrientes: dieta x suplemento
Não
está claro porque as mesmas vitaminas e minerais tinham efeitos diferentes se
fossem, digamos, mastigados ou ingeridos em uma cápsula compacta. Mas,
provavelmente, isso se deve ao fato de que nossos corpos foram “adaptados” pela
evolução para melhor absorver e usar micronutrientes nos níveis e proporções
encontrados nos alimentos.
“As
interações complexas entre os nutrientes provavelmente desempenham um papel
mais importante na determinação dos resultados de saúde do que os nutrientes
individuais”, observaram os cientistas em seu estudo.
Tomemos
o caso do cálcio, por exemplo. Pesquisas anteriores sugeriram que altas doses
regulares de cálcio vindas da dieta podem fazer com que o intestino reduza a
quantidade do mineral que ele absorve, levando a níveis mais altos de cálcio na
urina e níveis mais baixos no corpo. É muito difícil, se não impossível,
ingerir muito cálcio a partir dos alimentos; o corpo se livra dele.
Engolir
muito cálcio em uma pílula potente, por outro lado, não parece ter o mesmo
efeito sobre a absorção intestinal, levando ao aumento dos níveis de cálcio
circulantes e ao potencial de danos, como constipação e aumento do risco de
insuficiência renal.
Ressalvas
Antes
que qualquer pessoa fique tentada a incrementar sua dieta com alimentos
repletos de vitaminas e minerais específicos, os pesquisadores pedem cautela.
“Nossas descobertas sobre nutrientes individuais devem ser consideradas
exploratórias”, apontam.
Uma
vez que o estudo foi observacional, é apenas capaz de identificar correlações,
não provar causa e efeito. Ou seja, não podemos dizer, definitivamente, que
quaisquer nutrientes causam quaisquer danos ou benefícios.
Como
sempre, mais pesquisas precisam ser feitas. Considerando os dados que temos até
agora, só podemos concluir que “embora a ingestão adequada de nutrientes a
partir de alimentos possa contribuir para a redução do risco de morte, o
excesso de ingestão de suplementos pode, por sua vez, aumentar o risco de
mortalidade”.
O
estudo foi publicado em um artigo na revista científica Annals of Internal Medicine.
[ArsTechnica]
Fonte: Hypescience
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