Ex-juíza linha-dura, conforme os autos, 70% da campanha teriam sido financiados por dinheiro não
contabilizado
O Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso (TRE-MT) cassou, por
unanimidade, o mandato da senadora Selma Arruda, do PSL. No entendimento dos
desembargadores, a senadora cometeu caixa dois e abuso de poder econômico por
ter feito gastos eleitorais antes do período permitido, por meio de um contrato
simulado de empréstimo. A decisão foi anunciada na última quarta-feira, 10.
De acordo com os autos, quase 70% da campanha de Selma ao Senado foram
financiados por dinheiro não contabilizado, levantado por meio do contrato
simulado. Ainda no fim de 2017, antes do período de pré-campanha, ela fez um
contrato de R$ 1,5 milhão com o candidato a suplente em sua chapa, Gilberto
Possamai (PSL), mas usou o dinheiro em sua campanha.
O contrato não foi informado à Justiça Eleitoral. Para o relator,
desembargador Pedro Sakamoto, autor do voto vencedor, ficou provado que o
empréstimo, na verdade, foi doação eleitoral dissimulada, quase a compra na
vaga de suplente.
Selma e Possamai foram declarados inelegíveis pelos próximos oito anos.
O TRE-MT também enviou os autos ao Ministério Público para apurar indícios de
falsidade ideológica no contrato de empréstimo.
O relator do processo apenas ficou vencido ao propor que o terceiro
colocado nas eleições assumisse o lugar de Selma enquanto são convocadas novas
eleições. Para ele, a cassação de Selma e de seu suplente fará com que Mato
Grosso fique sub-representado no Senado até que outro senador seja eleito.
Nisso, concordou com o autor da ação, Carlos Fávaro (PSD), o terceiro colocado,
representado no caso pelos advogados José Eduardo Cardozo, ex-ministro da
Justiça, e Carlos Eduardo Frazão.
A defesa da senadora, feita pelos advogados Danny Fabrício Cabral Gomes
e Narciso Fernandes, informa que vai recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). "A jurisprudência é no sentido de que não se caracteriza o abuso de
poder econômico o uso de recursos próprios na campanha antes do período
eleitoral, como foi o caso", afirma Narciso Fernandes, que fez a
sustentação oral na quarta-feira.
Em nota divulgada, ainda na quarta-feira, Selma se disse tranquila com
seu mandato cassado. "A tranquilidade que tenho é com a consciência dos
meus atos, a retidão que tive em toda a minha vida e que não seria diferente na
minha campanha e trajetória política", declarou a senadora.
Saias
A decisão é simbólica. Selma Arruda é ex-juíza e, como magistrada,
gostava de se chamar de "Moro de saias". Dura na aplicação da lei
penal, se orgulhava de negar os pleitos das defesas e de falar de si como
protagonista no combate à corrupção. Entre advogados, era conhecida por não
soltar réus presos, nem mesmo depois de ordem do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Como senadora, ela foi signatária do requerimento de instalação da CPI
apelidada de "lava toga" pelos próprios proponentes. A intenção era
pressionar o Supremo a se curvar diante das vontades dos justiceiros de
primeira instância e de procuradores da República, especialmente os da
"lava jato".
Mais recentemente, deu entrevistas para defender o impeachment do
ministro Gilmar Mendes, pauta da ala reacionária do Congresso, que conta com o
coro dos apoiadores das demandas corporativas do chamado "Partido da
Justiça". No entendimento dela, "certas pessoas precisam ser
freadas". A birra de Selma com o ministro vem de Habeas Corpus concedidos
por ele para mandar soltar investigados que ela pretendia usar em sua campanha
ao Senado, já sob o apelido de "Moro de saias".
Suspeita
Ela ficou famosa no início dos anos 2000, quando ficou responsável por
uma operação deflagrada para investigar corrupção no Tribunal de Contas de Mato
Grosso. Consta dos autos que ela ordenou à vara negar todos os pedidos da
defesa do conselheiro Humberto Bosaipo de acesso aos autos. Ela condenou o
conselheiro a 18 anos de prisão por peculato, mas a decisão depois foi anulada.
O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Marcos Machado,
foi a favor de uma arguição de suspeição de Selma. Ele se baseou em declarações
de uma ex-assessora da juíza, segundo as quais Selma usou o processo de Bosaipo
para "promoção pessoal", pois já pretendia se candidatar.
Ela também ganhou os holofotes por insistir na prisão ilegal do
ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Riva. O ministro
Gilmar Mendes concedeu dois Habeas Corpus a Riva, por não ver motivos para
prisão preventiva, e ela desobedeceu os dois. Dias depois, se declarou
incompetente depois que o Ministério Público apontou que deputados estaduais da
ativa, com prerrogativa de foro no TJ, eram investigados.
Fonte: Conjur/Nação Jurídica
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