Na
foto acima, a entrega do “Dossiê Científico e Técnico contra o Projeto da Lei
do Veneno” (PL 6.229/2002)
A
Abrasco e a Associação Brasileira e Agroecologia (ABA), com o apoio da Fiocruz,
entregaram na tarde da última segunda-feira, 28, ao deputado federal Alessandro
Molon (PSB-RJ), o “Dossiê Científico e Técnico contra o Projeto da Lei do
Veneno (PL 6299/2002) e a favor do Projeto de Lei que instituiu a Política
Nacional de Redução de Agrotóxicos”.
O
dossiê é uma compilação de 15 notas técnicas já lançadas contra a PL 6299/2002,
é organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva e pela Associação
Brasileira de Agroecologia e busca dar embasamento científico para as
discussões sobre o tema. Nele, também é analisada a única Nota Técnica a favor
da PL, que, ainda assim, apresenta ressalvas em relação ao projeto.
Molon
é relator da comissão especial instalada na Câmara para analisar o projeto lei
que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos. A outra comissão
especial da Câmara dos Deputados cancelou a reunião da última terça-feira, 29,
onde tentaria votar esta nova lei dos agrotóxicos, cuja relatoria é do deputado
federal pelo Paraná Luiz Nishimori, do Partido da República (PR). Se o
colegiado aprovar o substitutivo de Nishimori, o texto já segue para
deliberação no plenário. Essa Comissão Especial é composta majoritariamente por
deputados da Bancada Ruralista, que nas suas prestações de contas oficiais ao
TSE apresentam fartos financiamentos de campanha pela Indústria Química e pelo
Agronegócio.
“Em nome da Abrasco e do
nosso Grupo Temático Saúde e Ambiente, ressalto o esforço – não só da Saúde
Coletiva, mas de outras entidades, como a Associação Brasileira de Agroecologia
e a Fiocruz. Estamos entregando não só um dossiê contra o PL, mas uma
documentação com sólida base científica em defesa da Política Nacional de
Redução de Agrotóxicos (PNARA). Para nós é estratégica tanto a denúncia como a
apresentação de uma política de redução de venenos com base científica. Esse
material tem mais 15 notas técnicas, desde as sociedades científicas, como a
Abrasco, SPBC, além de órgãos técnicos como Ibama, Anvisa e Ministério da
Saúde, Ministério Público do Trabalho e outros. É um acúmulo da sociedade
brasileira, uma munição para que consigamos reverter esse quadro”, disse
Fernando Carneiro, membro do GT Saúde e Ambiente da Abrasco e pesquisador da
Fundação Oswaldo Cruz/Ceará.
Ao receber o documento, o
deputado ressaltou que foi possível evitar a duas semanas a aprovação “dessa
aberração e adiar a votação. Em tese, eles vão tentar nos atropelar amanhã, mas
estaremos pintados para a guerra, para resistir e derrotar esse projeto. A ajuda
da Fiocruz e da Abrasco já foi tão importante que o autor do projeto já teve de
anunciar que fará mudanças no seu relatório antes da votação. Mas elas são
insuficientes. Queremos enterrar esse projeto, esse pacote do veneno; não
queremos aprová-lo com nenhum tipo de mudança, pois o projeto de lei que
queremos aprovar é a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA),
levada ao parlamento pelos movimentos sociais e construída coletivamente. Essa,
sim, representa uma política pública que a gente deseja para oferecer aos
brasileiros e às brasileiras, comida saudável e segurança alimentar e
nutricional. Nossos adversários fogem quando os questionamos se eles oferecem a
suas famílias orgânicos ou comida com veneno, pois o que eles querem é garantir
comida saudável para os poucos que podem pagar e, entregar comida envenenada
para o povo trabalhador brasileiro. Essa luta só tem sido possível pela
qualificada contribuição técnica e científica da Abrasco e de demais entidades,
contém conosco na luta pela Saúde Pública brasileira”, enfatizou.
Durante a entrega do
dossiê, Rogério Dias, vice-presidente da ABA enfatizou que a bancada ruralista
tem dominado politicamente por décadas, e com maior força no atual governo,
pela necessidade de blindar Michel Temer, garantindo assim a aprovação quase
integral de seus interesses. “Por um lado, estamos sob a ameaça do PL que quer
mudar a lei de agrotóxicos, retroagindo em um monte de conquistas que tivemos
e, por outro, temos a perspectiva de ter uma outra lei, o PNARA, que esperamos
que avance para materializar uma série de iniciativas que coloque de forma
transparente os riscos reais. Há discursos que enfocam uma possível falta de
recursos e condições para a agricultura; enfatizando que, na ausência de
agrotóxicos, haverá falta de alimentos e impossibilidade de produção. Na
realidade, temos, no mundo inteiro, exemplos de que a produção orgânica e a
agroecologia conseguem fazer uma agricultura mais inteligente, baseada no
equilíbrio, e com resultados positivos. Estamos nesse momento importante de
articular a sociedade para que a maioria entenda a importância e o impacto
dessas duas questões tratadas no Congresso. Temos uma disputa de forças muito
difícil. A gente entende que a única maneira de enfrentar isso é com a
sociedade. Os parlamentares ao nosso lado, que lutam pela agroecologia e
redução dos venenos são minoria. Eles fazem uma luta fundamental. A sociedade
precisa não apenas dar respaldo a essa bancada como constranger os
parlamentares favoráveis aos agrotóxicos. Estamos vendo isso acontecer ao longo
das sessões que querem aprovar o PL do veneno. A cada sessão, a sociedade está
mais presente e atenta, e mais esvaziada está a presença dos parlamentares que
apoiam o projeto. Uma coisa é aprovar tudo em sessões fechadas, mas quando a
sociedade civil está lá, registrando quem está e como vota, isso começa a
preocupar, pois estamos em ano eleitoral, e a opinião da sociedade passa a
contar, pois eles precisarão dos nossos votos. Há um importante papel quando
Fiocruz, INCA, Abrasco e outras entidades da saúde se manifestam sobre esse
tema. Mesmo sem uma relação direta com a agricultura aos olhos da população,
essas denúncias mostram as consequências e a relação clara entre a incidência
de câncer e o uso dos agrotóxicos. Quando a sociedade vai além da preocupação
com o resíduo de veneno no alimento e pensa no conjunto da cadeia, na exposição
perigosa que o trabalhador agrícola e o pequeno agricultor passam ao usar esses
venenos, é sinal de uma maior compreensão social desses perigos, não apenas
para mim, para minha família, mas pelo outro trabalhador e pela sociedade em
geral”, explicou Rogério.
O dossiê é apresentado por
Gastão Wagner de Sousa Campos (presidente da Abrasco) e Romier da Paixão Sousa
(presidente da ABA), que chamam atenção para o desmonte no Congresso Nacional,
pela Bancada Ruralista, ao frágil aparato regulatório brasileiro. “Diminuindo a
importância das medidas de proteção à saúde e ao ambiente no processo de
registro e fiscalização do uso de agrotóxicos em nome de uma suposta desburocratização
e produção de ‘alimentos mais seguros’ (…) Esse esforço, fruto da parceria de
duas importantes sociedades científicas, diretamente relacionadas à luta por um
modelo de sociedade mais justa e sustentável, vem contribuir para esse debate a
partir de uma Ciência que busca a promoção da vida e que não esteja refém dos
interesses do mercado”, diz o documento.
O dossiê entregue ao
deputado foi apenas uma versão preliminar do documento. Uma nova fase do
produto deve ser lançada ainda nesta semana, no 4º Encontro Nacional de
Agroecologia (ENA), que acontece entre essa quinta-feira, 31, e o
próximo domingo, 03, em Belo Horizonte. A versão final do dossiê será lançada
no final de julho, no 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva,
que acontecerá na última semana de julho, no Rio de Janeiro.
Fonte: Portal Abrasco
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