Jovem falava abertamente sobre a intenção de se
juntar às fileiras do EI. Costumava andar pelas ruas ouvindo música árabe e era
fascinado por vídeos de execuções que membros do grupo publicavam na internet
Um caminho de terra e cascalho leva a uma casa cinza em
Monjolos, município de 2,3 mil habitantes na região central de Minas Gerais.
Ali ocorreu a primeira prisão da Operação Átila, contra um jovem de
20 anos acusado de promover o grupo terrorista Estado Islâmico e
influenciar a radicalização de um menor de idade. Em 10 de outubro de 2017,
policiais federais apreenderam na casa, celulares, computadores, documentos e levaram
o suspeito no banco de trás do carro. Ele ficaria uma semana preso na
Superintendência Regional da PF em Brasília.
Aos moradores da cidade, o jovem falava abertamente sobre a
intenção de se juntar às fileiras do EI. Costumava andar pelas ruas ouvindo
música árabe e era fascinado por vídeos de execuções que membros do grupo
publicavam na Internet. Mas o comportamento era acompanhado de um histórico de
problemas psicológicos.
Em consultas psiquiátricas, feitas ao longo dos anos, foi
diagnosticado com "esquizofrenia paranoide". Apresentava sintomas
como agressividade, delírios de cunho persecutório, angústia, alucinações
auditivas e visuais, e "alterações formais do pensamento e
comportamento". À época da prisão, ele tomava remédios indicados para
tratamento de psicoses, transtornos bipolares, depressão e crises epiléticas.
Filho prematuro, nasceu com seis meses e meio de gestação e
teve problemas de saúde durante boa parte da infância, segundo a mãe. Quando tinha
10 anos, uma consulta hospitalar constatou dificuldades de aprendizado e uma
confusão para reconhecer a passagem dos dias da semana e meses do ano.
Abandonou o ensino formal aos 15 anos, após ser reprovado no 1.º ano do ensino
fundamental. Quem conversa com ele, em poucos minutos, percebe também uma sutil
dificuldade na dicção.
"Ele tinha muitos problemas, nasceu muito novo",
contou a mãe do jovem, Elaine Cândido, no quintal da casa. "Não tinha
cílios, não tinha unha, muita coisa que não tinha se formado direito, baixa
imunidade", lembrou. "A infância toda ele deu muito trabalho."
O interesse por religião também foi marcante. Estudou
diferentes doutrinas na pré-adolescência, do cristianismo ao candomblé. Mais ou
menos no período em que largou os estudos, sofreu um episódio descrito pela
família como "surto psicótico" e foi internado.
No depoimento que deu em Brasília, com a presença da mãe,
disse que havia conhecido o Islã em discussões na internet e em grupos do
aplicativo de mensagens WhatsApp, especialmente com um homem ainda desconhecido
da PF: Jhonathan Sentinelli Ramos, de 23 anos, que estava preso no Complexo
Penitenciário de Bangu, na região metropolitana do Rio, e se comunicava por um
celular. De dentro do presídio, ele enviava vídeos de execuções e material de
propaganda do EI.
Para o jovem, a volta à cidade foi acompanhado de restrições.
Sua mãe proibiu o acesso à internet e ao telefone e não autorizou o contato do
filho com a reportagem. O padrasto queimou o material que fazia referência ao Islã
– até mesmo uma cópia do Alcorão que recebeu pelo correio.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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