Por volta das 19h, acompanhados por forças policiais
paulistas, caminhoneiros começaram a deixar o anel rodoviário em São Paulo
Neste sábado, 26, a paralisação nacional dos
caminhoneiros entrou em seu sexto dia mantendo pontos de bloqueio em inúmeras rodovias
pelo país, inclusive no Sul de Minas Gerais. Mesmo após o anúncio de suposto acordo,
entre o Governo Federal e lideranças do transporte, na noite da última
quinta-feira, 24, 34 trechos da região mineira – três a mais do que ontem, 25 –,
do total de 596 em todo o Brasil, registravam paralisação dos motoristas durante
este sábado.
Das rodovias que cortam o Sul mineiro, a Fernão Dias estava,
até o início da noite deste sábado, com pelo menos sete pontos de paralisação, sendo
nas cidades de Extrema, Pouso Alegre, São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações,
Carmo da Cachoeira, Lavras e Perdões. Já na BR-491 os protestos foram
registrados nos municípios de Varginha, Elói Mendes, Paraguaçu, Guaxupé,
Guaranésia, São Sebastião do Paraíso e Serrania.
Também foram registrados paralisações em pontos da MG-450, no Km 6 em Guaxupé; na BR-265, no Trevo de Boa Esperança, em Santana
da Vargem e em São Sebastião do Paraíso, no Km 640 saída para Ribeirão Preto; na
MG-167, em Santana da Vargem; na MG-050, em São Sebastião do Paraíso e Passos;
na LMG-836, em São Sebastião do Paraíso; na MGC-146, em São João Batista do
Glória; na BR-146, em Bom Jesus da Penha, Guaxupé, Poços de Caldas e Cabo Verde;
na BR-354, em Campo Belo, Km 559 em Cana Verde; na MG-446, em Alpinópolis; na LMG-877,
em Poços de Caldas; na BR-267, no Km 536 em Poços de Caldas e no Km 482 em
Campestre.
Vale destacar que, em nenhum destes pontos de protestos,
houve, a qualquer tempo, bloqueio das rodovias e os caminhoneiros seguiam
parados nos acostamentos.
Retaliação
Em pronunciamento oficial no início da tarde de ontem, 25, o presidente
Michel Temer anunciou a assinatura de um decreto de Garantia
da Lei e da Ordem (GLO), o qual autorizou o uso das
forças armadas para desobstrução de vias públicas federais.
No final tarde deste sábado,
mesmo não havendo nenhum ponto de bloqueio onde os caminhoneiros estavam
paralisados, as forças policiais e do Exército começaram a agir em vários
pontos de protestos pelo país, principalmente em São Paulo, no Nordeste e em
Brasília, obrigando os motoristas a retirarem seus caminhões do local.
Agora, veja o que diz o enunciado
do “DECRETO nº 9.382,
DE 25 DE MAIO DE 2018”: “Autoriza o
emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem na desobstrução (grifado e negritado por mim) de vias
públicas”. Ora, se em todos os pontos de protestos, desde o início da
manifestação, sempre foi mantida uma ou duas faixas para que ônibus, vans,
carros de passeio e oficiais, bem como cargas de remédios, oxigênio e animais
vivos passassem, ficam duas perguntas: Se não há obstrução, não havia como
cumprir o Decreto de Sua Excelência, o presidente da República, certo? Sendo
assim, levados por qual poder, já que o Decreto perdeu seu valor, policiais
militares, policiais rodoviários federais, tropas de choque e tropas do
Exército começaram a agir na noite deste sábado, 26?
Leia
a íntegra do decreto através do link http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2018/05/inpdfviewer-1.pdf,
ele está na primeira página, logo abaixo do sumário, à esquerda da página.
Apesar
desta atuação das forças militares e de segurança, lideranças do movimento de
paralisação dos caminheiros afirmam que a manifestação não está encerrada e que
só terminará quando houver negociação com reais representantes da categoria.
Saúde
e Segurança
Já no terceiro
dia de paralisação a notícia de desabastecimento mostrava seus reflexos levando
motoristas e, principalmente, as autoridades a estudarem alternativas que
começaram a ser anunciadas no quarto da manifestação, principalmente porque
poderia prejudicar as atividades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)
e da Polícia Militar em Poços de Caldas, que passaram
a atender apenas casos mais graves.
Na
cidade, a ordem da prefeitura foi deixar boa parte da frota parada.
Em
Varginha, sede do Samu Regional, responsável pelo atendimento de 152 municípios
da região, emitiu comunicado informando que o
combustível das ambulâncias do serviço já está acabando e que o
atendimento poderá ser comprometido.
Contrariando
e desmentindo o que a grande mídia diz sobre a paralisação dos caminhoneiros,
que estaria segurando caminhões com cargas de medicamentos e de oxigênio, o que
poderia colocar em risco a vida de muitos pacientes e até leva-los à morte, na tarde
de hoje, 26, um morador próximo à Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas
flagrou um caminhão atualizando o estoque dos tanques de oxigênio da unidade
hospitalar.
“Eu moro em frente à Santa Casa. Conversei com o motorista e ele me disse que cargas de
remédios, de oxigênio e de animais vivos estão sendo liberados sem problemas em
qualquer ponto de protesto. No momento que postei as fotos eles estavam
abastecendo a Santa Casa”, conta Jabes Corrêa.
Alimentos
O setor de hortifrutigranjeiros está tendo reflexos bastante negativos,
tanto que na tarde da sexta-feira, 25, o Ceasa de Poços de Caldas registrava
considerável queda na movimentação diária, limitando-se a apenas 30%, não
diferente dos demais centros de abastecimento.
Em Poços de Caldas, os 192 boxes que atendem pequenos
produtores e atacadistas da região ficaram praticamente vazios durante toda a
manhã, enquanto que o Ceasa de Pouso Alegre operava com metade da capacidade.
O desabastecimento também afetou supermercados
e revendas foram que, gradativamente foram sentindo a falta de diversos
produtos, principalmente verduras, frutas e legumes.
A falta de combustíveis também obrigou inúmeros criadores
de gado leiteiro a se desfazerem do produto, como em Passos, onde 130 mil
litros de leite foram descartados por dia por falta de transporte, e, na
quinta, produtores jogaram
o leite na pista e no acostamento da MG-050 durante protesto.
Transporte Coletivo
A queda dos níveis de combustível nos postos também atingiu o transporte
público nas cidades do Sul de Minas.
Em Poços de Caldas, por exemplo, a concessionária do
serviço de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros, a Circullare manteve a
normalidade dos serviços até sexta-feira e, no final da tarde, anunciou a
suspensão de atendimento de algumas linhas e a alteração de horários de outras
durante o sábado e domingo. A concessionária não divulgou nenhuma outra nota
neste sábado sobre como deve operar na segunda-feira, 28, entretanto, é sabido
que a empresa conseguiu abastecer com diesel alguns de seus veículos em três postos
particulares da cidade, de modo que, ao menos no início da semana seus usuários
ainda poderão ficar tranquilos para irem trabalhar e voltar para casa.
Em Varginha, a frota opera com apenas um terço dos veículos e, em Pouso
Alegre, houve redução de linhas e foram adotados os horários praticados aos de
domingos e feriados.
Educação
Unidades escolares das redes municipais e estaduais e centros de
educação infantil tiveram suas atividades suspensas, em algumas cidades desde a
última sexta-feira, 25, tanto em função da falta de combustíveis quanto pelo
desabastecimento de alimentos para a merenda escolar.
Além das decisões tomadas por secretarias e superintendências de
ensino, universidades, como Fatec, Unifal, Unis, Unicor, entre outras, a suspenderem
as aulas. Em alguns casos, essas medidas já estão vigorando desde ontem, 24.
Coleta de lixo
Também está prejudicada a coleta de lixo em diversas cidades que anunciaram
a suspensão ou redução da coleta.
De acordo com a prefeitura de Poços de Caldas, a
expectativa é que o serviço possa ser prestado normalmente até a terça-feira, 29.
Em Passos o serviço foi suspenso na última quinta-feira e, em um dia, mais de 40 toneladas de lixo se
acumularam nas ruas e casas.
Já em Varginha, a restrição começa a partir da próxima
segunda-feira, 28, quando a coleta simples e a coleta seletiva serão limitadas
a duas vezes por semana e, em Pouso Alegre, a coleta foi suspensa em bairros
afastados e na zona rural.
Emergência
Ontem, 25, a prefeitura de Campo Belo decretou situação de emergência por conta do
desabastecimento, o que significa dizer que, a partir deste decreto o município
prioriza o abastecimento de combustível para os transportes essenciais, como
ambulâncias, transporte público e recolhimento de resíduos sólidos urbanos e
outros de interesse público e, ao mesmo tempo, pode contratar ou adquirir bens
necessários às atividades de resposta à situação de emergência com dispensa de
licitação.
Foto Aérea: Victor Imesi
Foto Oxigênio: Jaber
Corrêa
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