Grupo de Lima, que convocou seus embaixadores em
Caracas para consultas, acordou "reduzir o nível das relações
diplomáticas"
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebeu ontem, segunda-feira,
21, uma primeira enxurrada de sanções
econômicas dos Estados Unidos e repúdio internacional, após sua
questionada reeleição em votação desconhecida pela oposição.
O governante dos Estados Unidos, Donald
Trump, assinou um decreto que proíbe aos cidadãos de seu
país comprar obrigações da dívida venezuelana, incluindo da estatal Pdvsa, em
um momento em que o país petroleiro está asfixiado por uma profunda crise
econômica.
Washington, que chama Maduro de
"ditador", já havia prometido, mais cedo, "rápidas medidas
econômicas e diplomáticas", após qualificar a votação de domingo de
"farsa".
"Essas medidas vão estrangular a economia
venezuelana e, em particular, o regime", assegurou o internacionalista
Carlos Romero.
Para o cientista político Luis Salamanca, o
"círculo está se estreitando".
O Grupo de Lima (Canadá e 13 países
latino-americanos), que convocou seus embaixadores em Caracas para consultas,
acordou "reduzir o nível das relações diplomáticas" e agir para
bloquear os fundos internacionais para a Venezuela.
O secretário-geral da Organização dos Estados
Americanos (OEA), Luis Almagro, declarou: "não reconhecemos Nicolás
Maduro" com presidente da Venezuala.
"Não nos importamos que eles opinem",
disse o chefe de campanha de Maduro, Jorge Rodriguez, ao denunciar uma
"agressão orquestrada pelos Estados Unidos e pela direita
venezuelana" para desestabilizar o presidente.
"A esses governos (...), convidamos a refletir
e recompor relações de respeito mútuo", tuitou o chanceler Jorge Arreaza.
O Grupo de Lima, Estados Unidos e União Europeia
(UE) tinham adiantado que desconheceriam os resultados apoiando a opositora
Mesa da Unidade Democrática (MUD), que boicotou as eleições, considerando-as
fraudulentas.
Em contraste, o presidente russo, Vladimir Putin,
parabenizou Maduro, somando-se aos seus aliados Bolívia, Cuba, China e El
Salvador, que pediram respeito aos resultados.
O presidente venezuelano fez vários tuítes para
agradecer seus aliados, mencionando Rússia, China e outros aliados.
Maduro, de 55 anos, teve 68% dos votos contra 21%
do ex-chavista Henri Falcón, que considerou o processo "ilegítimo" e
pediu para repetir a votação, acusando o governo de "compra de votos"
e "chantagem" com os programas sociais.
"Os cenários estão cantados: tensão política,
radicalização, repressão, desconhecimento internacional maciço, aprofundamento
das sanções e clímax da crise econômica", assegurou o analista Luis
Vicente León.
“Não dá para nada”
A Venezuela sofre a pior crise de sua história
recente: o FMI estima a queda do PIB em 15% e a hiperinflação em 13.800% para
2018. Sua produção de petróleo caiu ao pior nível em 30 anos.
A abstenção alcançou um recorde de 54%, e Maduro,
reeleito por seis anos, perdeu pouco mais de um milhão de votos diante de sua
eleição em 2013.
Os venezuelanos vivem a falta de comida e remédios,
o alto custo de vida com um salário mínimo que paga apenas um quilo de carne, e
o êxodo de milhares de pessoas.
"Minha aposentadoria não dá para nada. Espero
que o governo melhore a economia", declarou, ontem, 21, à AFP, Miguel
Medina, de 61 anos, em uma estação de metrô de Caracas.
Maduro atribui a ruína a uma "guerra econômica
da direita" aliada com Washington, que sancionou cerca de 60 membros do
governo venezuelano.
Os Estados Unidos, para os quais a Venezuela vende
um terço de sua produção de petróleo, já havia proibido os americanos de
negociarem a dívida do país sul-americano, em default parcial, e ameaça com um
embargo de petróleo.
"Irei me dedicar por inteiro à recuperação da
economia", prometeu Maduro, ao proclamar sua vitória.
Maduro confia na China e na Rússia, mas um
"governo considerado ilegítimo não terá margem de manobra nem em finanças
internacionais nem em diplomacia", advertiu o analista Andrés Cañizalez.
“Não vamos cair”
Após a votação, Maduro convocou um
"diálogo", mas a Frente Ampla, que reúne a MUD e organizações
sociais, descartou.
"Não vamos cair em estratégias que visam
manter a fraude de ontem como um fato aceito", assinalou Omar Barboza,
presidente do Parlamento de maioria opositora.
Mas a oposição, que exige "eleições
verdadeiras" este ano, está profundamente dividida. Falcon se afastou da
MUD para lançar sua candidatura e não conseguiu tirar o estigma de
"traidor", que também é tido do lado do chavismo.
"Falcón não conseguiu ganhar Maduro nem a MUD.
Virão recriminações mútuas, tentativas de capitalizar a abstenção", disse
Salamanca.
Para os especialistas, o desafio da oposição é se
reunir em torno de "uma estratégia" que quebre o chavismo, no poder
há quase duas décadas.
Uma "implosão" representa o "maior
risco" de Maduro – que tem o apoio da cúpula militar – se cada vez mais
funcionários se sentem encurralados pelas sanções, opinou Leon.
O analista Benigno Alarcón considerou que, cercado,
o governo poderia radicalizar seu sistema político. Diego Moya-Ocampos, do IHS
Markit (Londres), não descarta novos protestos.
Fonte: AFP/EM
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