Brasil
é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e o sexto produtor
Tecnologia
desenvolvida pela Embrapa Solos (RJ)
em parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da
Universidade de São Paulo (Esalq/USP),
pode gerar grande economia na aplicação de ureia pelos produtores rurais.
Cientistas das duas instituições desenvolveram um fertilizante nitrogenado com
aditivos incorporados aos grânulos, técnica que reduz perdas de nitrogênio
provocadas por lixiviação (carreado em enxurradas) e por volatização.
A
inovação da tecnologia é que os inibidores de urease, que evitam a
transformação do nitrogênio presente no fertilizante em amônia gasosa ou em
nitrato, em vez de estarem aplicados ao redor do grânulo do produto, agora
estão incorporados ao grânulo. Os produtos foram desenvolvidos no laboratório
de Tecnologia de Fertilizantes da Embrapa Solos e os testes de volatilização de
nitrogênio e eficiência agronômica foram realizados no Departamento de Ciência
do Solo da Esalq/USP.
Perdas Superiores a 40% do Fertilizante
“Mais
de 40% do fertilizante nitrogenado é perdido para a atmosfera quando aplicado
no campo. Além disso, o fertilizante nitrogenado é um insumo caro e, em grande
parte, importado”, revela o chefe-geral da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro.
“Os
inibidores de urease são conhecidos há bastante tempo. Com sua incorporação aos
grânulos conseguimos aumentar sua eficiência. Por isso, a vantagem competitiva
do produto para a indústria é grande, já que ele utiliza um inibidor conhecido,
em menor dose”, detalha.
Os
inibidores de urease proporcionam menores perdas e, consequentemente, produtos
com esses inibidores apresentam maior eficiência agronômica em relação à ureia
perolada e aos fertilizantes comerciais revestidos com esses mesmos aditivos.
Os
aditivos incorporados à ureia retardam ou prolongam o tempo de disponibilidade
contínua do nitrogênio no solo, minimizando as perdas. “Dessa forma, o uso de
fontes nitrogenadas à base de ureia com maior eficiência e melhor relação
custo-benefício passa a ter um papel estratégico para a adubação das culturas”,
afirma o pesquisador Paulo César Teixeira, da Embrapa Solos.
A
ureia é o fertilizante mais utilizado na agricultura mundial como fonte de
nitrogênio, e é caracterizada como fertilizante sólido granulado ou pastilhado
com concentração por volta de 45% de nitrogênio.
“Dos
três nutrientes mais requeridos pelas culturas, o nitrogênio é o elemento mais
importante para a produtividade, que necessita ser periodicamente fornecido às
plantas e representa cerca de 60% do consumo mundial de fertilizantes. A ureia
é o fertilizante nitrogenado usado em maior escala na agricultura devido a
características como menor preço por unidade de nitrogênio e elevada
concentração do elemento. Também apresenta menor custo com fabricação,
transporte, armazenagem e aplicação, apresenta alta solubilidade, baixa
corrosividade e facilidade de mistura com outras fontes”, revela Teixeira. Por
outro lado, a ureia é o fertilizante nitrogenado que apresenta as maiores
perdas de nitrogênio por volatilização.
4º Maior Consumidor Mundial de Fertilizantes
O
Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e o sexto
produtor. Apesar dos esforços do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) em nacionalizar a fabricação de fertilizantes
nitrogenados, a dependência brasileira da importação aumentou nos últimos 12
anos.
Os
dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) demostram que de
2005 a 2016 o país aumentou sua dependência da importação de fontes
nitrogenadas de 64% para 83%. Dados da Associação dos Misturadores de Adubos do
Brasil (Ama Brasil) indicam que de janeiro a julho de 2017 essa dependência foi
de 85%. Ainda segundo a Anda, a produção, a importação e o consumo de ureia no
Brasil, em 2016, foram de 1.014.561 toneladas; 4.597.170 toneladas e 5.598.147
toneladas, respectivamente.
Rede FertBrasil
A
tecnologia foi desenvolvida no âmbito da Rede FertBrasil, composta por uma
estrutura de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia em
fertilizantes no Brasil e coordenada pela Embrapa.
O objetivo geral da Rede é propor soluções
tecnológicas e avanços em diferentes campos do conhecimento no desenvolvimento
de novas gerações de fertilizantes e insumos biológicos para o fornecimento
eficiente de nutrientes na agricultura tropical. Ela também pretende consolidar
uma rede nacional de pesquisa e validação de tecnologias de fertilizantes,
reconhecida pelos setores público e privado como a rede de pesquisa de
referência sobre o tema.
Ureia e Nitrogênio
“A ureia é utilizada para
adubação na agricultura para fornecer nitrogênio para as plantas. O nitrogênio
é um macronutriente primário, do qual as plantas necessitam em grandes
quantidades”, explica a engenheira agrônoma Ioná Rech, doutora em ciência pela
Esalq/USP que participou da pesquisa.
“A deficiência de
nitrogênio nas plantas pode ser identificada nas folhas velhas, principalmente
pela coloração uniforme verde-clara a amarelada”, continua Ioná. “As plantas
deficientes apresentam atraso no desenvolvimento vegetativo e pode ser possível
observar necrose nas pontas e margens das folhas velhas. As plantas podem
apresentar deficiência de nitrogênio causada pelo baixo fornecimento desse
nutriente pelo solo, e pela baixa eficiência da adubação nitrogenada devido às
elevadas perdas especialmente com o uso da ureia na adubação”, detalha a
especialista.
A ideia de incorporação de
inibidores de urease na ureia surgiu no período em que Ioná foi bolsista na
Embrapa Solos, entre 2010 e 2012. Vários trabalhos para o desenvolvimento do
novo fertilizante foram realizados na Unidade. Já os estudos de avaliação do
produto aconteceram durante o mestrado da cientista, realizado na Esalq/USP.
O fertilizante nitrogenado
com aditivos incorporados aos grânulos é de fácil fabricação, sem necessidade
de grandes adaptações nas instalações das fábricas interessadas em produzi-lo.
A Embrapa detém a tecnologia, e a patente do produto foi obtida em parceria com
a Esalq. A comercialização e produção do fertilizante serão feitas por meio de
parceria com empresas interessadas.
Fonte: Agência Embrapa de Notícias
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