Da aula de artes para a passarela: exposição de telas pintadas por
detentas do Complexo Feminino Estevão Pinto e desfile de roupas com estampas
dos quadros reforçam o processo de ressocialização
De um despretensioso projeto das aulas de arte à
marca de roupas femininas. Foi assim que nasceu a parceria entre a Escola
Estadual Estevão Pinto, instalada no complexo penitenciário feminino de mesmo
nome, em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, e a confecção Liberte-se.
Para comemorar e divulgar os novos trabalhos, os parceiros realizaram uma
exposição dos 15 quadros produzidos pelas presas em sala de aula, seguida de um
desfile com algumas peças da recém-lançada “Liberteees”, na tarde da última segunda-feira,
14, na unidade prisional.
Para a diretora-geral do complexo, Juliana Camargos
Ferreira, a unidade prisional é a que mais ganha com essa junção. “Estou
maravilhada, foi além das minhas expectativas. Esta é uma parceria que deu
muito certo. Mostramos que todos trabalhando juntos é uma força maior no
processo de ressocialização das nossas detentas. Educação e trabalho são muito
importantes para ajudar elas no cumprimento da pena e incentivar mudanças de
vida”.
Professor há 32 anos – 14 dedicados à escola do
complexo – Eder Batista da Rocha (foto abaixo), que também é artista plástico, tem brilho nos
olhos ao falar de seu trabalho. Além da aula de artes, ainda lecionou sobre
teatro e artesanato para as mulheres detidas na unidade prisional. Afirma que
sua maior preocupação dentro de sala é ensinar a elas alguma profissão para que
elas possam se manter.
“Aqui a gente é levado a ter outra experiência,
mesmo com o que aprendemos lá fora, aqui é outra realidade. Então comecei a
observar e pesquisar que eu devia ter um trabalho voltado mais para o lado
emocional, terapêutico. Busquei técnicas que fizessem elas refletir. Dentro de
um projeto trabalhei sobre limites em vez de dizer que ela fez errado. Uni a
arte aos questionamentos sobre limites e respeito, e usei uma técnica diferente
com cada turma, e assim nasceram os quadros aqui expostos. Elas gostam muito da
aula de artes, me pedem para ter uma duração de duas horas, ao invés dos 45
minutos atuais”, destaca Eder.
Os quinze quadros estão expostos no hall de entrada
do complexo penitenciário e foram feitos durante as aulas. As obras coletivas
possuem as assinaturas das 90 alunas que frequentam a disciplina. Fernanda
Couto, 25 anos, é uma das autoras que também participou do desfile. Ela mesma
reconhece como a escola a mudou.
“Eu não gostava das aulas antes, cheguei aqui
revoltada, não queria fazer nada, mas o professor Eder nos cativa, nos
incentiva. Ele sempre traz algo novo, nos dá a oportunidade de se expressar, e
aquilo nos da curiosidade e interesse em participar”.
Desfile Libertees
A marca de roupa da confecção Liberte-se, que já
funcionava na unidade desde 2013, nasceu no ano passado na primeira exposição
das aulas de artes. Marcella Mafra, uma das proprietárias, ficou encantada
quando viu os quadros e teve a ideia de transformar aqueles desenhos em
estampas, nascendo assim a Libertees.
A ideia inicial era que a Libertees produzisse
t-shirts (por isso o nome: junção da palavra ‘libertar’ com a sigla final
‘ts’). O projeto foi crescendo e a marca foi convidada a participar do Ready To
Go do Minas Trend. A primeira coleção “Vida” nasceu com 26 dias de gestação.
Onze peças da antiga e da nova coleção foram
selecionadas para o desfile, que teve como modelos as alunas da escola do
complexo. O evento era um desejo grande da empresária, que não escondeu a
alegria com o resultado.
“Estou super feliz, realizei um pedacinho do meu
sonho. Foi mais do que eu esperava, foi emocionante. Vários parceiros se uniram
e a felicidade foi vista no rosto de todas as presas que contribuíram com isso.
Para mim é um fechamento de uma abertura, de novas coisas que virão”.
Fotos: Divulgação/Seap
Fonte: Segov – Central de Imprensa
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